segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Ser descontente é ser homem

Cruzei-me esta semana com um texto delicioso, perfeitamente enquadrado no espírito desta viagem, que não resisto em partilhar.

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer da asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar.

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raíz
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

in Mensagem “O Quinto império”
Fernando Pessoa 1933

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