sábado, 28 de março de 2009

Não fizemos cume

Chegamos a Portugal no dia 27! Para trás ficou uma viagem incrível, com surpresas constantes a cada novo dia, sempre na mesma ilha. Mas por agora quero apenas falar da ascensão ao Mauna Kea.
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O objectivo desta viagem era bem diferente e a ascensão à montanha, mais do que uma ambição era sobretudo uma opção em aberto. Desde o primeiro dia que tentávamos ver, cá de baixo, o topo do Mauna Kea e os gigantes telescópios que lá estão, mas sem sucesso. O clima da ilha é muito temperamental e, como seria de esperar deste clima tropical acentuado pelos rigores impostos pela alta montanha, o normal é existir um muro de nuvens a separar as fraldas da montanha do seu topo. Aliás, só assim é possível ter a cidade mais chuvosa dos EUA (Hilo) a poucos Km de um dos locais com menos precipitação e estabilidade atmosférica do mundo (o topo do Mauna Kea). Mas finalmente ao fim de dois dias, no final de um dia de praia, uma aberta, deu-nos esse sorriso. Está ali! O topo, os telescópios, a neve, os 4200... e o bichinho de ir lá cima começa a mexer com as nossas vontades. Mas as praias irresistíveis não davam tréguas e a não ascensão era uma hipótese que não nos incomodava rigorosamente nada. Mas vamos ver... Nos dias seguintes, sem logística alguma, fomos perguntanto, investigando e conversando com as pessoas com que nos cruzávamos sobre as condições do trilho de acesso ao cume, sobre a segurança, sobre a metereologia e sobre o tempo de percurso. É certo que há uma estrada que vai lá acima, em 4x4, mas nós queríamos fazer o trilho. Mas cedo percebemos que os americanos, pelo menos, os americanos que aqui moram , são excessivamente cautelosos e pouco dados a grandes travessias. A ascensão ao Mauna Kea era-nos sempre relatada como uma tarefa extenuante, pouco popular e que requeria muito esforço e atlética condição física. Ora assim não tínhamos condições para o tentar. O tempo também não estava favorável. Neve teimosa que persistia em altitude, frio a rondar os -10ºC, sim temperaturas negativas extremas no Havai! Mais tarde, em Hilo, já um pouco resignados com a impossibilidade de fazermos o trilho sozinhos, optamos por contratar uma agência, para um programa de observação de estrelas e do pôr do sol, do cume, com transporte próprio em 4x4. A pior experiência desta viagem! Estes senhores - Arnot's Lodge - fizeram um dos piores programas que nós algum dia tivemos, tendo-nos vendido gato por lebre. Cobraram-nos para ir ao cume, mesmo sabendo que a estrada estava cortada. O guia não o era, ao ponto de quase termos que organizar um motim, em propotesto do péssimo serviço que nos estava a ser oferecido. Fomos até ao centro de visitas (VIS), e aí ficamos, com nuvens também sem grandes estrelas para observar. No entanto este aborrecido episódio esclareceu grande parte das dúvidas que tínhamos sobre o trilho. Afinal a ida de carro era perfeitamente possível até ao VIS aos 2828m. O trilho partia daí e se não tivesse condições de segurança pura e simplesmente estaria fechado pelos guardas florestais. Mais tarde ainda, no dia 21, vamos novamente ao VIS, no nosso carro, para ver o céu desse dia, entre a M79 e a M41 ao telescópio, conseguimos saber que o trilho estava aberto e que as previsões de tempo para o dia seguinte eram as melhores. E aqui estava a nossa janela de oportunidade. Assim fizemos. Dia 22, às 8h30 da manhã estávamos nós a postos, depois de uma noita dormida aos 300m, prontos a iniciar a caminhada, a sós, sem guias. Tínhamos água, comida, calçado, roupa, só faltavam as luvas, improvisadas com um segundo par de meias. Registamos a saída no centro de visitas e começamos a ascensão. O dia estava simplesmente deslumbrante. Paisagem aérea, autêntica, completamente desafogada até perder de vista. O Mauna Loa, a montanha irmã do Mauna Kea, permanecia majestaticamente sossegada ali mesmo ao lado, o mar imenso terminava na linha de horizonte e o calor do sol era pontualmente interrompido por leves brisas frias. Grande dia! Mas este trilho realmente é duro. Sem nunca abrandar a pendente, sobe imenso, com inclinações fortes. Não descansa nunca, é sempre a subir, sempre com os mesmos músculos em acção, sempre as articulações a dobrar no mesmo ângulo. Só as pausas ou as caminhadas para trás davam novo fôlego à mecânica do corpo. Mas o maior inimigo ainda viria a ser a altitude... O caminho em si, é fantástico pelas vistas, pela imensidão, mas também pela paisagem áspera da lava desfeita, que nos rodeava. O almoço foi já em altitude, com sintomas evidentes de altitude, náuseas pontuais, mal-estar, dor-de-cabeça, falta de apetite e raciocíonios já pouco reboscados. No entanto, eram apenas leves sintomas, o sinal claro que já não estávamos ao nível do mar. Continuamos montanha acima, já com mais de 5h nas pernas. E chegamos à cota de neve. No Havai, começamos então a caminhar na neve. E continuamos.. e continuamos, agora sempre em neve, já sem possibilidade de a evitar. E a progessão na neve é muito mais difícil, cansa! Cansa muito, cansou-nos muito! Sem condição física previamente preparada e sem teimosia mental para aguentar aquele esforço conseguimos terminar o trilho. Chegamos ao ponto de encontro deste com a estrada que dá o privilégio aos locais de fazerem Snowboard. Os telescópios principais já estão ali, à nossa frente, em grande esplendor, a estrada está desimpedida e o ambiente é de uma agradável tarde Domingueira, com muita gente a desfrutar do sol e neve na montanha. Logo, logo ali, oferecem-nos café e espantam-se com o nosso feito até ali. Oferecem-nos até boleia, por estrada, até ao cume, que recusamos. "Compreendo que estas coisas tenham as suas regras!" Continuamos então, para a última 1,6 milha, até ao cume, galgando os últimos metros de desnível. Mas... a montanha não nos quis. Os sintomas de altitude eram evidentes e o mau estar não desaparecia. O esforço e sacrifício muitos e poucos metros mais à frente, a decisão difícil. Voltamos para trás, não precisamos de ir ao cume. A caminhada valeu por si. O verdadeiro troféu foi uma das melhores caminhadas a 2, com um tempo, vistas e ambiente espetacular. Resumo da ascensão (altitude):
Pernoita: 300m (Waimea / Kamuela)
Início da caminhada: 2828m (Centro de Visitas)
Fim da caminhada: 4069m (Cume a 136m acima do nosso retorno)
Duração: ~ 7h
Subida acumulada: 1241m


Legenda:
01. Vista do cume e telescópios da vila onde dormimos (Waimea) 02. Início do trilho, um pouco a cima do Centro de Visitas 03. Primeiros Km's da manhã, com o Mauna Loa ao fundo
04. Um dos poucos períodos sem subida 05. No vale Apolo (onde astronautas experimentaram o Rover antes de irem à Lua) 06. Neve à vista 07. Acima das nuvens 08. Caminhada extenuante numa pendente forte e escorregadia (sem crampons) 09. Os grandes telescópios 10. Telescópios: Subaru à esquerda e Keck (2x) à direita 11. Ponto de retorno, na estrada, já fora do trilho (no mapa em cima, o penpágono)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Concentrado de Terra


Legenda:
1. Surfista numa praia no sul da costa Kohala
2. Uma das muitas estrada cenicas da ilha, a caminho do Sul
3. Alojamento catita, na casa do Sr. Gordon, na aldeia Volcano
4. Trek no Parque Nacional dos Vulcoes - Kilauea Iki Trail
5. A atravessar a Cratera, pelo mesmo trilho, com fumarolas constantes
6. Estrada cortada pela lava
7. idem
8. Peixe de aquario, ali mesmo, visto de fora de agua
9. Piscinas naturais com corais e peixes tropicais com fartura

sexta-feira, 13 de março de 2009

No paraiso tambem chove

Estamos na imensidao do Pacifico. Uma eternidade para ca chegar, contadas as horas de aeroporto, foram mais de 48h para aqui chegar, praticamente 2 oceanos atravessados. Estamos na grande ilha do Hawai'i! O oceano espraia-se ali em baixo sem vergonha ate longe, numa baia gigantesca, ampliada por esta visao elevada daqui da colina. Estes primeiros dias sao de descompressao do grande dia. De descanso portanto, mas esta ilha absorve o tempo e arranca-nos "uaus" de espanto com frequencia. A natureza aqui nao e' so generosa, e' de uma exuberancia extrema e impressiona pela diversidade. Ja atravessamos uma "meia lua" da ilha e os cenarios sao incriveis. Desde floresta tropical hiper-densa, ate planicie negra de lavas escorridas, passando claro pelas praias dignas de todos os adjectivos que possamos imaginar. Mas o primeiro dia aqui foi desconfiado. Em Hilo, cidade onde aterramos, o dia era temeroso de inverno, chuva, nuvens carregadas, tudo humido e desagradavel e a temperatura tambem nao era a que imaginavamos. Sera que vamos vestir o fato de banho? Mas esta cidade tem fama de ser a mais chuvosa dos EUA e, e' bem possivel, que do lado de la da ilha (para onde viemos) esteja bom tempo. A curiosidade inquieta-nos. Sera? De caminho para Kona, cidade destino, perto do nosso primeiro alojamento fica ainda a umas boas 2h30 de estrada. Ah, temos um Chevrolet enorme, que mais parece uma ambulancia. De mudancas automaticas claro. Mas antes de partir, temos ainda tempo para visitar uma fabrica de nozes da macadamia, produto de excelencia da ilha e de ver um tigre branco e mais uns animais raros num zoo completamente informal e ao ar livre. Espanta o verde, as cores garridas e intensas tanto das plantas como dos animais. Ha' aqui cada ave... Passamos ainda, por volta do almoco, nos escritorios do observatorio Keck, estupendo e a antever o que la em cima esta. A nata da nata, da exploracao cientifica mundial. Aqui procuram-se outras ilhas na imensidao do espaco... Bom mas avancando, o dia nao deu treguas e manteve-se com chuva sempre. Nao incomoda contudo, o jet-lag de 10h de diferenca baralhou-nos o sistema todo. Estamos completamente KO's e a estas 16h daqui so nos apetece dormir, sem limite. E' o que fazemos. Acordamos no dia a seguir, ja retemperados e prontos para a praia. De noite choveu cantaros. O estranho no meio disto tudo e' que as janelas da nossa cotage nao teem vidros!!! So uma rede mosquiteira. A chuva cai ali mesmo ao lado e os sons da natureza, passaros, vegetacao, chuva e vento, embalam-nos no calor do interior. Mas no dia a seguir qual chuva qual que. Dia azul e aberto. Esta fantastico. A paisagem daqui, ao pequeno-almoco tira-nos as palavras. Vamos para a praia. Numa praia privada, de um resort, temos tudo, sol, areia branca, sombra, sossego, agua impecavel, descanso... Mas bom bom, e' nao ter horas, nem horarios e deixar fluir o tempo ao sabor desta nossa melhor lua-de-mel.





Legenda:

1. Ka'Awa Loa Plantation - Alojamento dos primeiros dias

2. Praia Hawai'i no Pacifico

3. A primeira visao do Mauna Kea (com neve).