domingo, 20 de setembro de 2009

'Ocio

... com O grande, assim tem sido estes dias. Esta foi a primeira vez que experimentàmos fèrias ao pacote. Tao profuso conceito que nos rodeia e que so agora experimentàmos. 3 variaveis apenas: onde, quando e quanto e jà està. Tudo o resto aparece pronto, como que por magia, dia apòs dia à nossa volta. Chegàmos a Punta Cana, no passado dia 14. Aqui sao 5h a menos que em Portugal, mas uns sufocados graus Celisius a mais. A saida do aviao aì tìnhamos o previsto bafo, deste lugar tropical, que vende praia e sol. Estamos num lugar cujas coordenadas geograficas coincidem com as da Republica Dominicana, mas dos Dominicanos e da estreia neste pais, nao consigo dizer nada. Sò o tempo que è magnifico e que corresponde ao que compramos, repito, Sol e Praia. Logo na primeira noite quisemos ver se este mar das Caraibas è mesmo o que se pinta. E apesar de o crepusculo ja quase estar a dar lugar a primeira noite nesta latitude, a agua acaricia os pes da mesma forma que a agua tepida do bidè, em Portugal. È incrivel, deve estar aì a uns 30. sem exagero. Isto promete. Ora pois e o ceu, magnifico. O escorpiao e o meu sagitario estao tao altos! Que espectaculo e a estrela polar informa que a latitude deste sitio deve rondar os 20.N, serà? Mas pois entao, em regime de "tudo incluido" esta mesmo tudo incluido. O resort IFA Bavaro Hotel, de 4* corresponde as criticas e expectativas que traziamos. Tem uns jardins fantasticos e a praia a uns 5min. O quarto fica estrategicamente bem localizado para tudo, inclusive para a praia, a 5 min, a andar muito devagar. Confesso que è desconfortavel, entregar a outrem o prazer de planear as ferias, estranho ate, mas para descansar, relaxar e estimular a melanina da pele, que aqui nao tem hipotese de nao escurecer è o melhor. Tal como os medicamentos, este tipo de ferias nao e bom nem e mau, è òptimo se prescrito para descansar. Tem a desvantagem de nao nos fazer crescer, como pessoas, como qualquer outra viagem, mas è bom, està bem montado e funciona muito bem, connosco ocidentais. Sim, andamos com pulseira no braco a semana toda, sim podemos beber e comer quanto quisermos (apesar da abundancia parecer saciar mais do que o proprio alimento), sim pendulamos da praia para a piscina e da piscina para a praia. Sim, è bom e recomenda-se. Agora acho è que com tanta imersao, se nos estao a desenvolver as membranas interdigitais...




Atè breve, num outro destino qualquer relatado in loco ;)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

2009 - Ano Internacional da Astronomia

Dois mil e nove foi promovido pelas Nações Unidas a "Ano Internacional da Astronomia". Coincide com o quadricentenário das primeiras observações astronómicas com um telescópio do Galileu. Temos assim, um mote para durante este ano prestarmos mais atenção aos céus, libertarmo-nos das amarras quotidianas que nos prendem à Terra e deixarmo-nos levar pela imensidão do firmamento. É uma oportunidade excelente para nos deixarmos levar numa viagem muito para além dos cumes das mais altas montanhas. Sou um apaixonado pela natureza, da sua exuberância, variedade e beleza ímpar. Aprecio ainda mais a universalidade da linguagem com que esta se apresenta. Podemos ir ao quintal de casa, ir ao norte ou sul, ir...ir muito longe, que a expressão da natureza que nos rodeia é sempre magnífica. Mas e se?... E se olharmos para cima? À noite. Para que a venda nos olhos que o sol radiante nos põe, caia ligeira dos nossos olhos. Quanta natureza temos ali, quanta imensidão, variedade e energia nos chega silenciosa aos olhos? É impressionante, não é? Eu acho. O nosso lugar neste gigantesco carrossel do universo está a postos. The show must go on!

***

E a propósito destas reflexões cósmicas, um texto que descobri nos últimos tempos, de um autor anónimo, sobre pessoas estrela versus pessoas cometa. Partilho no essencial.

«Há pessoas estrelas, há pessoas cometas. Os cometas passam, apenas são lembrados pelas datas que passam e retornam por nós. As estrelas permanecem. Os cometas desaparecem. Há muita gente cometa. Passam pela vida da gente apenas por instantes, gente que não prende ninguém e a ninguém prende. Gente sem amigos. Gente que passa pela vida sem iluminar, sem aparecer, sem marcar presença. Importante é ser estrela. Estar presente. Marcar presença. Estar junto. Ser calor, ser vida. Amigo é estrela. Podem passar os anos, podem surgir distâncias, mas a marca fica no coração. Coração que não quer enamora-se de cometas que apenas atraem olhares passageiros. E muitos são cometas por um momento. Passam, nós batemos palmas e depois... desaparecem. Ser cometa é não ser amigo. É ser companheiro , mas por instantes. É explorar sentimentos. É ser aproveitador de pessoas e de situações. É fazer acreditar e desacreditar ao mesmo tempo. A solidão de muitas pessoas é consequência de que não podem contar com ninguém. A solidão é resultado de uma vida cometa. Ninguém fica. Todos passam. E a gente passa pelos outros. Há a necessidade de criar um mundo de estrelas. Todos os dias ver sua as suas estrelas, a sua luz, o seu calor. Assim devemos ser. Como estrelas. Estrelas que nos iluminam nos momentos escuros. São esperanças no momento de desânimo. Olhando os cometas é bom não nos sentirmos como eles. Olhando os cometas é bom sentirmo-nos estrela. Ter vivido e construído uma história pessoal. Ter sido luz para muitos amigos. Ter sido calor para muitos corações. Ser estrela nesse mundo passageiro, nesse mundo cheio de pessoas cometas, é um desafio, mas acima de tudo uma recompensa. É nascer e ter vivido e não apenas existido.»

aos meus amigos e amigas
!




sábado, 28 de março de 2009

Não fizemos cume

Chegamos a Portugal no dia 27! Para trás ficou uma viagem incrível, com surpresas constantes a cada novo dia, sempre na mesma ilha. Mas por agora quero apenas falar da ascensão ao Mauna Kea.
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O objectivo desta viagem era bem diferente e a ascensão à montanha, mais do que uma ambição era sobretudo uma opção em aberto. Desde o primeiro dia que tentávamos ver, cá de baixo, o topo do Mauna Kea e os gigantes telescópios que lá estão, mas sem sucesso. O clima da ilha é muito temperamental e, como seria de esperar deste clima tropical acentuado pelos rigores impostos pela alta montanha, o normal é existir um muro de nuvens a separar as fraldas da montanha do seu topo. Aliás, só assim é possível ter a cidade mais chuvosa dos EUA (Hilo) a poucos Km de um dos locais com menos precipitação e estabilidade atmosférica do mundo (o topo do Mauna Kea). Mas finalmente ao fim de dois dias, no final de um dia de praia, uma aberta, deu-nos esse sorriso. Está ali! O topo, os telescópios, a neve, os 4200... e o bichinho de ir lá cima começa a mexer com as nossas vontades. Mas as praias irresistíveis não davam tréguas e a não ascensão era uma hipótese que não nos incomodava rigorosamente nada. Mas vamos ver... Nos dias seguintes, sem logística alguma, fomos perguntanto, investigando e conversando com as pessoas com que nos cruzávamos sobre as condições do trilho de acesso ao cume, sobre a segurança, sobre a metereologia e sobre o tempo de percurso. É certo que há uma estrada que vai lá acima, em 4x4, mas nós queríamos fazer o trilho. Mas cedo percebemos que os americanos, pelo menos, os americanos que aqui moram , são excessivamente cautelosos e pouco dados a grandes travessias. A ascensão ao Mauna Kea era-nos sempre relatada como uma tarefa extenuante, pouco popular e que requeria muito esforço e atlética condição física. Ora assim não tínhamos condições para o tentar. O tempo também não estava favorável. Neve teimosa que persistia em altitude, frio a rondar os -10ºC, sim temperaturas negativas extremas no Havai! Mais tarde, em Hilo, já um pouco resignados com a impossibilidade de fazermos o trilho sozinhos, optamos por contratar uma agência, para um programa de observação de estrelas e do pôr do sol, do cume, com transporte próprio em 4x4. A pior experiência desta viagem! Estes senhores - Arnot's Lodge - fizeram um dos piores programas que nós algum dia tivemos, tendo-nos vendido gato por lebre. Cobraram-nos para ir ao cume, mesmo sabendo que a estrada estava cortada. O guia não o era, ao ponto de quase termos que organizar um motim, em propotesto do péssimo serviço que nos estava a ser oferecido. Fomos até ao centro de visitas (VIS), e aí ficamos, com nuvens também sem grandes estrelas para observar. No entanto este aborrecido episódio esclareceu grande parte das dúvidas que tínhamos sobre o trilho. Afinal a ida de carro era perfeitamente possível até ao VIS aos 2828m. O trilho partia daí e se não tivesse condições de segurança pura e simplesmente estaria fechado pelos guardas florestais. Mais tarde ainda, no dia 21, vamos novamente ao VIS, no nosso carro, para ver o céu desse dia, entre a M79 e a M41 ao telescópio, conseguimos saber que o trilho estava aberto e que as previsões de tempo para o dia seguinte eram as melhores. E aqui estava a nossa janela de oportunidade. Assim fizemos. Dia 22, às 8h30 da manhã estávamos nós a postos, depois de uma noita dormida aos 300m, prontos a iniciar a caminhada, a sós, sem guias. Tínhamos água, comida, calçado, roupa, só faltavam as luvas, improvisadas com um segundo par de meias. Registamos a saída no centro de visitas e começamos a ascensão. O dia estava simplesmente deslumbrante. Paisagem aérea, autêntica, completamente desafogada até perder de vista. O Mauna Loa, a montanha irmã do Mauna Kea, permanecia majestaticamente sossegada ali mesmo ao lado, o mar imenso terminava na linha de horizonte e o calor do sol era pontualmente interrompido por leves brisas frias. Grande dia! Mas este trilho realmente é duro. Sem nunca abrandar a pendente, sobe imenso, com inclinações fortes. Não descansa nunca, é sempre a subir, sempre com os mesmos músculos em acção, sempre as articulações a dobrar no mesmo ângulo. Só as pausas ou as caminhadas para trás davam novo fôlego à mecânica do corpo. Mas o maior inimigo ainda viria a ser a altitude... O caminho em si, é fantástico pelas vistas, pela imensidão, mas também pela paisagem áspera da lava desfeita, que nos rodeava. O almoço foi já em altitude, com sintomas evidentes de altitude, náuseas pontuais, mal-estar, dor-de-cabeça, falta de apetite e raciocíonios já pouco reboscados. No entanto, eram apenas leves sintomas, o sinal claro que já não estávamos ao nível do mar. Continuamos montanha acima, já com mais de 5h nas pernas. E chegamos à cota de neve. No Havai, começamos então a caminhar na neve. E continuamos.. e continuamos, agora sempre em neve, já sem possibilidade de a evitar. E a progessão na neve é muito mais difícil, cansa! Cansa muito, cansou-nos muito! Sem condição física previamente preparada e sem teimosia mental para aguentar aquele esforço conseguimos terminar o trilho. Chegamos ao ponto de encontro deste com a estrada que dá o privilégio aos locais de fazerem Snowboard. Os telescópios principais já estão ali, à nossa frente, em grande esplendor, a estrada está desimpedida e o ambiente é de uma agradável tarde Domingueira, com muita gente a desfrutar do sol e neve na montanha. Logo, logo ali, oferecem-nos café e espantam-se com o nosso feito até ali. Oferecem-nos até boleia, por estrada, até ao cume, que recusamos. "Compreendo que estas coisas tenham as suas regras!" Continuamos então, para a última 1,6 milha, até ao cume, galgando os últimos metros de desnível. Mas... a montanha não nos quis. Os sintomas de altitude eram evidentes e o mau estar não desaparecia. O esforço e sacrifício muitos e poucos metros mais à frente, a decisão difícil. Voltamos para trás, não precisamos de ir ao cume. A caminhada valeu por si. O verdadeiro troféu foi uma das melhores caminhadas a 2, com um tempo, vistas e ambiente espetacular. Resumo da ascensão (altitude):
Pernoita: 300m (Waimea / Kamuela)
Início da caminhada: 2828m (Centro de Visitas)
Fim da caminhada: 4069m (Cume a 136m acima do nosso retorno)
Duração: ~ 7h
Subida acumulada: 1241m


Legenda:
01. Vista do cume e telescópios da vila onde dormimos (Waimea) 02. Início do trilho, um pouco a cima do Centro de Visitas 03. Primeiros Km's da manhã, com o Mauna Loa ao fundo
04. Um dos poucos períodos sem subida 05. No vale Apolo (onde astronautas experimentaram o Rover antes de irem à Lua) 06. Neve à vista 07. Acima das nuvens 08. Caminhada extenuante numa pendente forte e escorregadia (sem crampons) 09. Os grandes telescópios 10. Telescópios: Subaru à esquerda e Keck (2x) à direita 11. Ponto de retorno, na estrada, já fora do trilho (no mapa em cima, o penpágono)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Concentrado de Terra


Legenda:
1. Surfista numa praia no sul da costa Kohala
2. Uma das muitas estrada cenicas da ilha, a caminho do Sul
3. Alojamento catita, na casa do Sr. Gordon, na aldeia Volcano
4. Trek no Parque Nacional dos Vulcoes - Kilauea Iki Trail
5. A atravessar a Cratera, pelo mesmo trilho, com fumarolas constantes
6. Estrada cortada pela lava
7. idem
8. Peixe de aquario, ali mesmo, visto de fora de agua
9. Piscinas naturais com corais e peixes tropicais com fartura

sexta-feira, 13 de março de 2009

No paraiso tambem chove

Estamos na imensidao do Pacifico. Uma eternidade para ca chegar, contadas as horas de aeroporto, foram mais de 48h para aqui chegar, praticamente 2 oceanos atravessados. Estamos na grande ilha do Hawai'i! O oceano espraia-se ali em baixo sem vergonha ate longe, numa baia gigantesca, ampliada por esta visao elevada daqui da colina. Estes primeiros dias sao de descompressao do grande dia. De descanso portanto, mas esta ilha absorve o tempo e arranca-nos "uaus" de espanto com frequencia. A natureza aqui nao e' so generosa, e' de uma exuberancia extrema e impressiona pela diversidade. Ja atravessamos uma "meia lua" da ilha e os cenarios sao incriveis. Desde floresta tropical hiper-densa, ate planicie negra de lavas escorridas, passando claro pelas praias dignas de todos os adjectivos que possamos imaginar. Mas o primeiro dia aqui foi desconfiado. Em Hilo, cidade onde aterramos, o dia era temeroso de inverno, chuva, nuvens carregadas, tudo humido e desagradavel e a temperatura tambem nao era a que imaginavamos. Sera que vamos vestir o fato de banho? Mas esta cidade tem fama de ser a mais chuvosa dos EUA e, e' bem possivel, que do lado de la da ilha (para onde viemos) esteja bom tempo. A curiosidade inquieta-nos. Sera? De caminho para Kona, cidade destino, perto do nosso primeiro alojamento fica ainda a umas boas 2h30 de estrada. Ah, temos um Chevrolet enorme, que mais parece uma ambulancia. De mudancas automaticas claro. Mas antes de partir, temos ainda tempo para visitar uma fabrica de nozes da macadamia, produto de excelencia da ilha e de ver um tigre branco e mais uns animais raros num zoo completamente informal e ao ar livre. Espanta o verde, as cores garridas e intensas tanto das plantas como dos animais. Ha' aqui cada ave... Passamos ainda, por volta do almoco, nos escritorios do observatorio Keck, estupendo e a antever o que la em cima esta. A nata da nata, da exploracao cientifica mundial. Aqui procuram-se outras ilhas na imensidao do espaco... Bom mas avancando, o dia nao deu treguas e manteve-se com chuva sempre. Nao incomoda contudo, o jet-lag de 10h de diferenca baralhou-nos o sistema todo. Estamos completamente KO's e a estas 16h daqui so nos apetece dormir, sem limite. E' o que fazemos. Acordamos no dia a seguir, ja retemperados e prontos para a praia. De noite choveu cantaros. O estranho no meio disto tudo e' que as janelas da nossa cotage nao teem vidros!!! So uma rede mosquiteira. A chuva cai ali mesmo ao lado e os sons da natureza, passaros, vegetacao, chuva e vento, embalam-nos no calor do interior. Mas no dia a seguir qual chuva qual que. Dia azul e aberto. Esta fantastico. A paisagem daqui, ao pequeno-almoco tira-nos as palavras. Vamos para a praia. Numa praia privada, de um resort, temos tudo, sol, areia branca, sombra, sossego, agua impecavel, descanso... Mas bom bom, e' nao ter horas, nem horarios e deixar fluir o tempo ao sabor desta nossa melhor lua-de-mel.





Legenda:

1. Ka'Awa Loa Plantation - Alojamento dos primeiros dias

2. Praia Hawai'i no Pacifico

3. A primeira visao do Mauna Kea (com neve).




domingo, 25 de janeiro de 2009

Mauna Kea - 4206m

Localizado num arquipélago em pleno Oceano Pacífico, o Havai possui no total 132 ilhas. Contudo, a maior parte do 50º Estado dos EUA, concentra-se no sudeste do arquipélago, onde se encontram as 8 maiores ilhas, que são também as únicas ilhas habitadas. A parte central do arquipélago é constituída por ilhas muito pequenas e rochedos. O extremo noroeste é formado por recifes e cadeias de areia. A altitude média do Havai é de 925m, sendo o seu ponto mais elevado o Mauna Kea com 4206m de altitude.


«Que um vulcão adormecido numa ilha tropical seja chamado “Montanha Branca” pelos seus habitantes só pode soar estranho a quem não leve em conta a capacidade dos grandes picos para desenharem a sua própria meteorologia. No Inverno, as camadas de cinza que entupiram a antiga caldeira e que agora marcam os pontos mais altos da montanha ficam regularmente cobertas de neve, às vezes durante meses. Oportunidade para os surfistas trocarem as ondas pelas rampas geladas, onde se pode fazer esqui ou snowboard. A estrada até ao topo que transforma o Mauna Kea numa acessível estância de Inverno quando cai neve mas é também o caminho por onde sobem cientistas de todo o mundo para verdadeiras estafetas de observação do Universo nos maiores telescópios do mundo. Devido à sua grande altitude, meteorologia excelente (cerca de 300 noites por ano sem nuvens), à localização geográfica (numa ilha e perto do Equador, o que permite olhar para ambos os hemisférios celestes), ao fácil acesso e à quase ausência de luz provocada pela presença humana, este é um local de eleição para espreitar as estrelas. É tão bom que já existem cerca de uma dúzia de grandes telescópios no local e multiplicam-se os planos para novas infra-estruturas. Imune a estas humanas tensões, o Mauna Kea mantém-se adormecido na sua milenar vigilância sobre as ilhas do Havai – estima-se que o vulcão tenha um milhão de anos. Ali perto, o “ponto quente” (lugar onde a crosta terrestre abriu, deixando sair a lava para a superfície) que lhe deu origem alimenta agora o Kilauea, um dos vulcões mais activos do planeta. Na verdade, todas as ilhas do arquipélago foram formadas por esta fonte de lava – à medida que a crosta terrestre se movia sobre o ponto, as sucessivas ilhas foram surgindo no mar, que depois as foi erodindo. A maior, e mais recente, é aquela onde se situam o Mauna Kea e o Kilauea, dois dos cinco vulcões que a compõem.Com tamanha pressão vinda do interior da Terra, compreende-se que os vulcões do Havai sejam verdadeiros gigantes. O fundo do mar fica aqui a cerca de 5800 metros de profundidade e isto significa que, quando medido desde a sua base, o Mauna Kea é a maior montanha da Terra, superando largamente os 8848m do Evereste: o ponto mais alto do Havai fica dez quilómetros acima do fundo do Oceano Pacífico. E seria ainda mais alto não fosse o enorme peso desta massa de lava solidificada, que leva o maciço a afundar-se cerca de nove quilómetros no manto terrestre.»

in Fugas/Público, 2009.01.24