segunda-feira, 30 de abril de 2007

O Gerês de Miguel Torga

Aproveitamos a liberdade de não trabalhar, na 4ª Feira, para um breve passeio pelo Gerês. Já há muito tempo que não via um dia com tanta personalidade como este último 25 de Abril, choveu todo o dia. As surpresas do dia foram marcadas por 2 momentos. Primeiro o almoço prazenteiro no "O Abocanhado", em Brufe, logo a seguir à barragem de Vilarinho, com umas vistas da mesa, que nesse dia não o foram, mas com uma comida que só por si justifica a viagem. Segundo, a descoberta dos "baños", em "Os Baños", do lado de lá, em Espanha, no Parque do Xurés, depois de atravessada de carro a Mata de Albergaria em plena Serra Amarela. Uma piscina quase (natural) de umas águas termais a brotar da terra e, que mesmo naquele dia fresco, fazia com que houvesse gente dentro de água, sem frio nenhum. Impressionante foi também o contraste e variedade de tonalidades verdes do trajecto da Mata, apesar de dentro do carro, sublinhado pela vivacidade das folhas e plantas molhadas pela chuva e orvalhos.No GPS ficou o PR1 da CM de Terras de Bouro, o trilho "Cidade da Calcedónia", para fazer numa próxima, num outro regresso, com as vistas mais desafogadas... Ficamos ainda a saber que Torga era uma fervoroso adepto deste nosso único Parque Nacional, com homenagens destas na sua obra.

REGRESSO
(Miguel Torga)

Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! Minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram,
Mal eu surgi, cansado, na distância!
Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.

Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos
Aos deuses do meu velho paraíso



segunda-feira, 23 de abril de 2007

Os meninos de S. Pedro da Cova


Há fins-de-semana assim, reconfortantes.
Na Sexta foi tempo para ir e vir a/de Aveiro. Um rodiziozinho no Planeta Brasil, com o mote do aniversário teu, festeira Raquel, soube muito bem, não soube? E depois, como foi o resto da rambóia? Eu a Li, regressamos então ainda na noite de Sexta ao Porto. A estória é desta feita, por cá, Porto e arredores. A agitação tem-nos (a)tirado para longe de casa frequentemente, mas confesso que partilho dessa opinião, de que não é preciso ir para muito longe para se conseguir "daqueles" momentos. Não quero pois, ser explorador doutros solos sem investir igual atenção ao nosso, por cá, com tanto para ver e fazer. E é precisamente este pensamento que nos assola o espírito, inúmeras vezes, quando andamos por lá, e que nos empurrou para fazermos o que fizemos este Sábado de manhã. Inscrevemo-nos há algumas semanas como voluntários na Legião da Boa Vontade. Aguardamos até este fim-de-semana, para colaborarmos pela primeira vez. A LBV mantém-se activa, aqui na região do Porto, prestando auxílio diverso a pessoas necessitadas. No Sábado às 9h da manhã, estávamos a postos para o programa "Semente da Boa Vontade". Uma manhã passada com um grupo de 18 crianças, dos 6 aos 13 anos, de famílias de baixos recursos económicos ou desagregadas, como me disseram na entrevista. O mini-bus foi buscá-las, a casa, ao bairro de S. Pedro da Cova, em Gondomar. Nós esperamos na casa da LBV. O dia está fantástico, mas as instruções da Albertina, monitora e responsável pelo programa são claras. Manter as crianças dentro de casa, evitar os andaimes e material de obras que está no recreio. Bom, vamos lá ver... Chega o mini-bus, chegam as crianças que logo nos começam a tirar as medidas "Quem são estes?", devem pensar. Mas alguns já vêm a ripostar, a mandar umas ca#%!hadas e a levantar o dedo do meio, como se nada fosse. Ok, vamos lá ver no que isto dá... Entramos e apesar do caos que se viria a tornar constante, a Albertina é bastante respeitada por todos. Quando se quer, consegue reduzir a pouco, os sons daquelas guelas estridentes! É regra da casa, que todos os voluntários são "tios". Ganhamos assim 18 sobrinhos em pouco tempo e, durante toda a manhã fomos bombardeados com centenas de chamadas "Oh tio... oh tio...", "O tio já vai..." - dizia eu. Primeiro momento do dia, pequeno-almoço. Brigas frequentes e tudo é motivo para "queixinhas" aos tios. Mas os putos são fantásticos. E em pouco tempo, todos querem colo e ver o mundo daqui de cima, destes invulgares 191cm acima do solo. O Daniel, com 6 anos, parece ter ficado meu fã e não me larga. Giro é também jogar e entender as diferentes personalidades já tão vincadas de todos e cada um. Passamos grande parte da manhã a construir cartolinas alusiva ao tema "Solidariedade". No meio do caos sonoro e de correrias incrontroláveis pela casa, nós e as outras 3 voluntárias, (Ana Isabel, Ana Sofia e Patrícia) terminamos a tarefa mesmo a tempo do almoço, entretanto preparado pela Albertina e pela Ana Isabel. Os miúdos apesar de reclamarem, já conhecem e cumprem as regras da casa. São obedientes e esta casa ajuda-os a "ter regras". O nosso trabalho é esse também. Nós servimos o almoço e sentamo-nos à mesa com eles. Após refeição, arrumação da cozinha, estamos no pátio, com a Albertina a distribuir lembrança/brinquedos para levarem para casa. O dia ficou ganho logo ali quando me perguntam "Tio Paulo, tio Paulo, para o próximo dia vem?". É para repetir, sem dúvida. Hoje (Domingo) foi simples, acordar preguiçoso, preparar farnel, deambuleio pelo litoral a norte, até a minha saudosa Apúlia, almoço e leituras estivais, pela primeira vez no ano, numa toalha, na areia da praia. Tempo ainda para passar nas Clarinhas de Fão e regressar a casa. Após sesta, corrida vespertina no belo Parque da Cidade, soube pela vida.



segunda-feira, 16 de abril de 2007

A acácia da Lousã

Há fins-de-semanas assim, extasiantes!
Este começa com treze amigos, reunidos numa Sexta-Feira 13 na Lousã, com um programa promissor e intenso para os 2 dias que se seguiam. Sábado, 7h da manhã, alvorada colectiva sem grandes preguiças e com muita vontade de acção. A temperatura ainda deixa dúvidas, está fresco, mas cedo se eleva o mercúrio dos termómetros. Chegam o João e a Inês às 8h05, pontualíssimos. Nós todos, avançamos sem medo de cobras para o ataque ao Trevim, seja lá o que isso for. Voltamos a calcorrear o trilho da caminhada 06, mas com esta companhia, o percurso é obrigatoriamente novo. O ritmo é excelente para tamanho grupo e cedo percebemos que chegaremos ao topo bem cedo. Já se vêm os relampejantes Extreme Riders, aqui e ali, a reconhecer ferozmente o trilho da prova de downhill (BTT) de amanhã, a contar para o campeonato nacional. A fome denuncia os primeiros sintomas, curioso ou não, exactamente no mesmo ponto que na caminhada de preparação do Kili. Com pouco mais, estamos na Ortiga, "plataforma eólica", bonita varanda para a Lousã, ponto de decolagem de parapente para alguns, mais logo à tarde. As sandes, sumos, folhados e bola da Inês, preenchem as bocas de quem não fala. Está calor, é pouco menos de meio-dia, o Trevim está já ali. Pés à estrada. Chegamos ao topo mesmo antes das 14h, que belo grupo este. E agora? Descer até à Serdeira? As vontades já não são efusivas, ok esperamos pela boleia (mal sabíamos). Lagartos ao sol, gráfico da preguiça lá no topo, soneca/sesta saborosos. Chega o Ernesto na carrinha maléfica. Descemos à Ortiga e saem os primeiros baptismos de parapente. Hugo inaugura o marcador e sai, sem cerimónias, a correr, depois a deslizar e finalmente a flutuar monte abaixo. Seguem-se a Bárbara e a Joana. Eis que os ventos dizem que daqui não sai mais ninguém. Após 2 tentativas de aproximação à pista da Joana, decisão de aterragem lá em baixo, na Lousã. Nós os outros 12, seguimos por estrada. Carrinha maléfica ao baixo não pega, "Se vocês soubessem como está esta carrinha..." Caixa aberta, cabelos ao vento, gargalhadas constantes. Condução precipitada e turbulenta, exagerada por uma 2ª puxada a pedir 3ª ao baixo, só que... grrr.... grrrr.... a 3ª não entra... e não entra... velocímetro a ficar excitado... grrr... a 2ª... também não entra... os travões não moram neste veículo... grrr... o de mão já está puxado... após habilidoso desvio... eis que... a mágico-trágica acácia nos recebe e nos pára com o embate lateral deste corpo previamente desgovernado! Pronto, susto registado e irresponsabilidade de motorista escusada, pela estúpida ânsia de velocidade completamente inoportuna. O aparato foi este, os estragos felizmente desprezáveis. A reacção do grupo, excelente, ao ponto de servir para alimentar as conversas do resto de fim-de-semana com a chacota merecida de tal acontecimento. Mais parapente, agora com motor, da pista, Mónica e Raquel. Boleia para casa, com peão escusado na pista. Banhos, perfumes, roupa nova e... Ti'Lena, restaurante no Talasnal em excclusivo pra nós. Lareira acesa, volta a saber bem. Bacalhau (só para alguns), chanfana, cabrito e pudim de abóbora, farófias, talasnicos e... vinho, da casa - Souselas - sangria e... aguardente.. de mel. Brindes a nós, brinde às acácias, à acácia da Lousã!! Os mais resistentes disco-night. Eu boa-noite, até amanhã. Domingo preguiçoso. Alvoradas bocejadas entre as 8h30 e as 11h30. Logística para o farnel. Saída pró castelo, previsão de caminhada light até ao Talasnal agora de dia. Não há pressas, o dia está fabuloso. Hesitamos na boca do trilho, mas agora sim, subimos, paramos noutra varanda sobre a Senhora da Piedade, mesmo ao lado da cruz branca. Seguimos pelo trilho com vistas fantásticas. Chegamos ao Talasnal, que ambiente. Café pachorrento na varanda do O curral. Mas que belo momento. Está-se bem, muito bem. Apetece viver aqui, a companhia é fantástica. A paisagem de sonho. Que se registe, aqui está mais um momento daqueles ;) Tempo ainda para conversas com a Ti Lena genuína, anciã da aldeia. Prova do licor serrano, licor de castanha e licor de bolota. Sou pouco bons são... Descida pela levada. Ida e volta panorâmicas. Descida ao ponto de partida, regresso às origens.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

instantâneos da viagem


"Mama Fauzia Children's", nos subúrbios de Nairobi
04.Mar.2007


Os preparativos, na véspera da viagem
18.Fev.2007



Trekking de montanha no parque do Kilimanjaro, 4º dia
26.Fev.2007




"Senecias", as plantas de montanha de maior porte do mundo
26.Fev.2007



No Pico da Liberdade, tomo 02
27.Fev.2007



Autocarro "shutle" da Tânzania para o Quénia
03.Mar.2007


O túmulo de BP em Nyeri, monumento nacional (ao fundo Mte Quénia)
06.Mar.2007



Primeira panorâmica sobre o vale Rift, dia 01 do Safari
08.Mar.2007



A "selva" dos safaris na reserva de Masai Maara
08.Mar.2007



Balão sobre Masai Maara
09.Mar.2007




segunda-feira, 2 de abril de 2007

Este nobre sentido


Finalmente consegui usufruir da prenda de Natal que aguardava agenda desde essa altura: "Curso de iniciação à técnica da Prova de Vinhos". Obrigado pedragrega. Gostei muito. Mas mais admirável que a conquista imediata da perspicácia característica de um profissional enólogo, o que me ficou foi uma ainda maior admiração pelo néctar dos Deuses e uma admiração ainda mais forte perante o poder dos aromas. Como já dizia, Hemingway, apaixonado de África como nós, "O conhecimento e educação sensorial apurada podem obter do vinho prazeres infinitos".
Foram uns belos mágicos momentos, conduzidos de olhos fechados pelo imenso mundo dos aromas. O olfacto é um potente sentido, que nós humanos usamos de uma forma injusta. Tornamo-nos seres extremamente visuais. O bonito é fotogénico, o exuberante é colorido, uma imagem vale mais que mil palavras mas... um aroma leva-nos bem mais longe. Que o diga o lado mais primitivo do nosso cérebro. E é fácil despertar este glamour. Basta alguma atenção e dedicação a esta valência perdida. A experiência de enalar de um copo, um vinho previamente desconhecido (prova cega, com o rótulo tapado), tentando descobrir o/s aroma/s predominante/s é sugestivo, por vezes frustante (nos vinhos mais complexos, digo eu agora), mas é fantástico. O nosso cérebro tem capacidade para distinguir 10 milhões de aromas diferentes e nós pouco sabemos deles. O pior não está em encontrá-los, está mais em descrevê-los. Normalmente dizemos cheira bem/mal, nada mais. Mas com uma boa dose de imaginação, podemos dizer é um cheiro frutado, vegetal, sulfuroso, mineral, ou ainda mais específico, do género: cheira-me a manga, a limão, a feno, a chocolate preto, a leite, a palha, a ferro, a madeira, a fumo, a baunilha, a ponta de lápis, a mala de senhora, a cão molhado... tantos cheiros quantos a nossa "memória olfactiva" se consiga lembrar!! O primeiro meu despertar para este mundo foi quando li "O perfume". Embora seja a história de um assasino, a forma como o narrador descreve cheiros e aromas, fez-me andar uns tempos de nariz levantado, por todo o lado, atento aos cheiros que me rodeavam. Agora, aqui, cheira-me aqui a humidade, um pouco a celulose, fruto do papel que me rodeia. E por aí, cheira a quê?