quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Locomoção humana

Gosto, gosto muito da nossa capacidade de locomoção. Essa proeza notável da evolução que nos torna uma das máquinas mais evoluídas à superfície da Terra. O movimento espacial do nosso corpo, pé ante pé, passo a passo, que lá nos impele para a frente e nos tira daqui para nos levar para acolá, para longe. Uma capacidade tão intrincada em nós adultos, que raramente questionamos a proeza de que somos capazes. Esta capacidade é mesmo notável. A troco do dispêndio de umas meras calorias, os músculos das nossas pernas sincronizam-se, articulam-se e miraculosamente lá conseguem mover a macro estrutura de que fazem parte para a frente, para os lados, para trás, para cima até, com um salto. Um impulso vigoroso já capaz de elevar o corpo para lá da fasquia dos dois metros de altura. Dois metros! O mesmo mecanismo que nos permite a locomoção é capaz de elevar o corpo até dois metros de altura. Assinalável. Mas o simples caminhar é um dos meus gostos mais genuínos. Ter por garantido o alcance do que me rodeia. Tornar a ambição duma distância, uma realidade. Sentir o prazer da conquista que esse feito nos dá, é um gosto. Quem já fez uma caminhada exigente sabe do que falo. É preciso sentir, é preciso viver essa emoção para venerar esta nossa capacidade de locomoção. Eu gosto, gosto muito, cada vez mais de me (lo)comover. Agora que vejo o Tiago a aproximar-se desse momento em que irá dar o primeiro passo, penso mais nisto. O quão difícil nos é coordenar a motricidade do movimento. O quanto difícil nos será equilibrar o corpo hirto na vertical. A locomoção, aparentemente simples, é afinal um processo deveras complexo. Tão complexo que não há robot algum que o consiga reproduzir fielmente . Algumas tentivas têm sido feitas, mas as limitações são sempre muitas. A locomoção humana é um feito da criação. E eu aprecio a forma como o podemos fazer, gratuita e saudavelmente todos os dias, sempre que nos apeteça. Assim digo, que gosto, gosto muito da locomoção humana.

Azul

Gosto, gosto da cor azul. Em qualquer nuance, em qualquer tonalidade, em qualquer uma das suas variantes. Desde o azul bebé até ao intenso azul das profundezas do oceano. Culturalmente por cá, qualquer rapaz deve gostar do azul, tal é a veemência da cor à sua volta e tal é a insistência daquilo que o rodeia. No Tiago, o azul predomina e fica-lhe bem. Mas o azul é ainda sinónimo de clube, clube de futebol, futebol clube do Porto. Sou simpatizante do Porto, é certo, mas apenas isso. Estou muito distante da realidade e dinâmicas do clube. Apesar destes dois reforços positivos, continuo a dizer que não é só por isso. Porque gosto, gosto genuinamente do azul. Os cones dos meus olhos rejubilam quando vêem no espelho essa predominância. O espírito acalma-se quando um aberto céu azul se espraia à minha frente. A boca abre-se quando as límpidas águas de uma lagoa se amontoam num azul intenso. As mãos querem tocar o azul glaciar do gelo compactado. Mas as cores, esse travo visual que conseguimos distinguir, não está acessível a todos. Os daltónicos sofrem com isso. Mas uma invenção portuguesa está a dar a volta e inventou um sistema de os capacitar também para distinguir este meu azul. O coloradd é uma daquelas invenções brilhantes, cada vez mais popular. Um sistema iconográfico para distinção das cores. Aqui o metro do porto já usa e foi aí que o conheci. Parabéns aos criadores. Oxalá se popularize. O Tiago, não sei ainda se gosta ou não de azul, mas que distingue as cores, isso sei. Adora cores fortes e vibra com tudo o que brilha de cor, tal é o entusiasmo com o mundo que o rodeia. O casaco azul que lhe vesti hoje, para ir à rua, fica-lhe muito bem, lá isso fica. Por tudo isto e por tudo o mais que vem de dentro e não vejo racional para tal, apenas consigo afirmar que gosto, gosto muito da cor azul.


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Mapas

Gosto, gosto de mapas. Essas representações abstratas do nosso contexto. Esses padrões que definem fronteiras. Essas alegorias da finitude do planeta. Dá-me um conforto enorme olhar para um mapa mundo e, ao ver tudo, de um só relance perceber que,  o meu mundo é isto aqui! Os geógrafos que conseguiram esta proeza no passado merecem toda a nossa veneração. Fantástica e universal representação da nossa realidade. E saber ainda que muitos deles foram sangue do nosso sangue. Esses quinhentistas portugueses que navegaram mapa abaixo, a recortar África. A decalcar cada cabo, cada enseada, cada vento, cada maré que define hoje com pormenor este nosso mapa mundo. Gosto de todos os mapas, os políticos os meus preferidos, a par com as cartas militares de escala mais pormenorizada. Mas gosto também dos mapas de relevo, esses que mostram onde está cada montanha, até onde cada vale se estende, ou quão fundo vai aquela fossa abissal do oceano. Mapas com tanta informação que às vezes sinto não processar tudo. Mapas climáticos, mapas rodoviários, mapas demográficos e tantos outros. E os mapas de cidades, com os pontos de interesse assinalados? Multi-coloridos de todas as formas e feitios, sempre disponíveis gratuitamente em qualquer cidade que recebe com carinho os seus visitantes. Mas mapas curiosos vi em 98 na EXPO. No pavilhão do território. Desconheceço a nomenclatura correta, mas eram uns mapas de portugal, contorcidos e retorcidos, conforme o tempo de viagem a um determinado local e não conforme a distância como habitualmente. Figuras fantásticas, que me fizeram pensar. Nuna mais os voltei a ver. Mas mapa original ainda, foi-me oferecido pela Joana e o Tiago, há uns tempos atrás. Um Scratch map mundo, a decalcar ao ritmo das nossas viagens, que está aqui afixado na parece. Quando o recebi, comecei entusiasmado a rasurar cada país já visitado, com cuidado para não passar inusitadamente a fronteira. Terminei estupefacto pela quantidade de países ainda ocultados. Tanto ainda para explorar! América, Ásia e África, quase tudo. Gostava de rasurar mais, bem mais. Mais recentemente descobri ainda outros mapas originalíssimos também. Os Crumpled city maps, ou mapas de amarrotar. Uma ideia genial para qualquer explorador de uma cidade. À prova de água e maus tratos, estes mapas ultra leves, super práticos e muito cómodos para andar todo o dia no tira-põe, que era afinal a principal ameaça à dignidade de um mapa normal. Este ano, aqui o Porto  recebeu a mais recente edição destes mapas. «Já podemos amarrotar o Porto sem perder o norte», como diz o Fugas. Mas as cartas militares, com todos aqueles detalhes são, sem dúvida, os meus mapas de eleição. Se atualizadas são uma radiografia fantástica para explorar qualquer ermo lugar, mesmo que nunca lá se tenha estado na vida. Por tudo isto gosto, gosto muito de mapas.

Mapa de rasurar/decalcar


Mapa de amarrotar


domingo, 28 de outubro de 2012

Acampar

Gosto, gosto muito de acampar. Regressar ao passado e sentir de perto, de muito perto, a natureza. Viver ao ar livre, ao sabor dos elementos, sentir o sol, o vento, por vezes até o barulho sonoro da chuva. Sentir os cheiros todos da terra. Ouvir o ruído das árvores, das aves e de todos os animais que pululam à nossa volta. Saborear uma refeição preparada ali mesmo, ao lado da tenda, rodeados de cenários arrebatadores. Sentir o calor e o aconchego de uma fogueira. Este meu gosto muito deve ter que ver com as minhas boas memórias passadas. Fui escuteiro. Entrei para o movimento com oito ou nove anos, já não me recordo bem. Cresci, acampei sempre todos os anos, várias vezes. Somei dezenas de "noites de campo". Ultrapassei mesmo a centena. E recordo-me de muitas. A primeira, sem dúvida. Uma bela noite de verão, em julho, com outros tantos meninos da mesma idade. Todos inquietantemente ansiosos por esse momento em que o sol se vai e a noite chega. Esse momento da primeira noite fora de casa. Um misto de emoção e de medo. Sim, que a noite, lá fora é escura, muito escura. A simples ida à latrina, oxalá não seja preciso, é uma aventura gigantesca. Valha-nos a defesa da lanterna, religiosamente guardada, dentro do saco cama, para acender ao mínimo barulho. Mas a emoção venceu esse medo inicial, e mais, muito mais noites se seguiram. O prazer de adormecer debaixo das estrelas e acordar com os primeiros raios de sol. Mesmo nas noites de chuva é um prazer. Mais tarde, já com a sabedoria e segurança do empenho na montagem da tenda, com a drenagem das águas devidamente acautelada. Estar dentro da tenda com essa certeza, dentro de um bom saco cama, quente, muito quente e ouvir o tic-tac da chuva na lona, como que um espetáculo de percursão ali tão perto, é no mínimo envolvente. Experimentei várias tendas. De início as tradicionais canadianas, triangulares como uma caixa de palitos, pequenas de dois lugares, ou maiores de seis ou oito. Mais recentemente os cómodos "iglôs" quadrangulares, leves e de fácil de montagem. Mas recordo-me mais de uma tenda muito especial. Uma tenda que os escuteiros  universitários finlandeses do meu ERASMUS  (SOOPA) usam e que levaram para o fim de semana onde acampei com eles. Uma tenda enorme onde coubemos todos, com um pormenor fabuloso. Uma salamandra no interior! Isso mesmo. Um ponto de queima de lenha, lá dentro, com chaminé até ao topo da tenda, para nos proteger e tornar possível o acampamento naquelas condições onde o termómetro roçava o zero. Um dispositivo que obrigava a uma vigia constante ao longo da noite, quer para alimentar o fogo, quer para zelar pela segurança dos que dormiam. com uma escala mitilarmente assegurada, para o bem de todos. Foi uma emoção e um conforto adicional sem precedentes. Por esta e por tantas outras aventuras ao ar livre, gosto, gosto muito de acampar.



Acampamento com os "SOOPA" | Finlândia, outubro 2001

sábado, 27 de outubro de 2012

Ponto final

Gosto, gosto de um ponto final. Esse sinal ortográfico que nos dá fôlego no final de uma frase. Que nos encerra um raciocínio. Que nos completa uma afirmação. Mas gosto mais e refiro-me sobretudo, ao ponto final, metáfora. A conclusão, o encerramento, a versão final, a última página, a última gota, um diploma, a volta depois da ida. Esses finais não disruptivos, antes pois construtivos, conclusivos, que realizam, que valorizam e preenchem. Essa sensação ótima de terminar algo. O ponto final da última página de um livro por exemplo, dá-me gosto. Tenho pena de não ser capaz de ler mais rápido. Falta de tempo, deficit de concentração ou excesso de sono atrapalham-me sempre as boas intenções. Por isso quando leio o último ponto final de um livro, sabe-me mesmo bem. Um curso, um trabalho, um projeto. Que bom é o ponto final derradeiro. Esse final saboroso da conclusão. Esse alívio de poder partir para outra. O ponto final de uma viagem. Gosto muito de viajar, mas o bilhete de regresso a casa, o ponto final do plano de viagem, dão-me segurança e conforto. Esse ponto final que nos transporta do "vejo como é", para o "conto como foi". É bom viajar, mas é tão melhor ainda o ponto final e o regresso à casa partida, para um balanço, para retemperar forças. Talvez por isto também goste dos pontos finais geográficos. Um cabo, uma península. Esses redutos últimos do nosso alcance terreste. Lembro-me agora do Cabo Finisterra, ali na Galiza, onde estivemos em junho de 2011, um lugar emblemático, religiosa e culturalmente, onde a península parece que se esgota. Mas os mapas atestam que o ponto final da ibéria, da europa ocidental continental não é Finisterra, é antes o Cabo da Roca. Esse outro ponto final, que de quando em vez se ouve na metereologia. Passamos por lá, já no ido ano de 2004. E mais recentemente tivemos que ver e sentir outro ponto final emblemático. Skagen, o norte mais norte da Dinamarca. Essa língua de areia que ondula ao sabor das marés. Esse  ponto final de um país plano, que com orgulho vende este ponto final como um orgulho seu. Um bom ponto final é um prazer sim. Por isso gosto, gosto muito de um  (bom) ponto final (.)


Cabo da Roca, Portugal | 2004
Cabo Finisterra, Galiza | 2011

Skagen, Dinamarca | 2011

"Pela China Dentro", António Caeiro | Dom Quixote
O meu mais recente ponto final



sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Queijos

Queijos. Gosto, gosto muito de queijos. De todos sem exceção. Brancos e macios,  frescos, aromatizados, azuis, duros, de pasta mole, nacionais ou exóticos. Os clássicos acompanham-me e tenho-os sempre por perto. O minhoto e tão típico queijo Limiano é ótimo. De textura uniforme e paladar macio, dá corpo a uma boa tosta mista ou cobre lindamente uma requintada francesinha. Às fatias fininhas, como agora se vende, ou então cortado em casa, com uma faca, em fatias generosas, a acompanhar um pedaço de marmelada. Que belo lanche. Na mesma categoria, o Terra Nostra dos Açores. Igualmente suave, mas mais macio ainda. De sabor agradável, é um queijo que gosto também. Agora que fui aos Açores recordar o pasto, o gado e a abundância do laticínio, parece que me sabe ainda melhor. Será possível? Das ilhas chegam-nos ainda dois outros queijos sublimes. O queijo S. Jorge DOP com intenso paladar picante, um bouquet claro e uma textura dura, mas quebradiça. Um orgulho das ilhas, um icone nacional. E o queijo S. Miguel, mais macio um pouco, mas ainda assim com um paladar generoso. Não resisti e na despedida de S. Miguel, passamos pelo "Rei dos Queijos" em Ponta Delgada, entramos na loja, já com água na boca tal era o cheiro no ar, provámos cada um dos que pedimos e lá trouxemos um naco de cada um dos dois, cortados no momento, de cada um dos enormes cilindros que fazem a unidade. Mas queijo, queijo, é o Queijo da Serra. Serra da Estrela leia-se. Feito com leite de ovelhas Bordaleira. Alimentando-se de ervas, flores e plantas selvagens, as ovelhas conferem ao leite e consequentemente ao queijo uma acidez suave com a doçura de caramelo, coagulhada numa maleável, cremosa e voluptosa pasta amarela. Uma delícia e um prazer. Acompanhado de um bom vinho então, aí está. Um dos prazeres desta vida. Mas e lá fora? Quanta variedade. França o eterno reino dos queijos. Afirma ter tantos quantos os dias do ano. Assim era há uns anos. Hoje certamente já serão mais. São muito gulosos estes fromages que nos chegam de França. Gosto particularmente de três. O Camembert de Normandie, produzido com leite cru, com um paladar frutado e um ligeiro aroma a cogumelos. Gosto do Camembert quando é cremososo a suculento, tal como os locais o apreciam. Depois o Roquefort, esse queijo bolorento, produto fruto do acaso, que ou se adora ou se detesta. Eu gosto, gosto muito. Em pouca quantidade, como sobremesa, por cima de um pão estaladiço, hummm, que delícia. E finalmente o Saint Nectaire, um dos grandes queijos franceses. Feito com leite de vaca oriundo dos ricos, luxuriantes e perfumados pastos vulcânicos das terras altas de Auvergne, apresenta um acentuado paladar a noz e leite. O pungente aroma a palha e cogumelos conferem-se o rótulo gourmet bem merecido. Pena é não lhe termos acesso cá. Apenas o provei oriundo da fonte, vindo diretamente de Clermont Ferrand. Cá não o encontrei ainda. Mas gostar, gosto muito é de uma boa tábua de queijos, para prova, à descrição. Um luxo. Um prazer. Por tudo isto gosto, gosto muito de queijos.


Camembert

Roquefort
Saint Nectaire

Queijo da Serra
Excelente livro que gosto.  Já faz parte da minha biblioteca.


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Feiras e Mercados

Gosto, gosto muito de feiras e mercados. Essas tradicionais manifestações do comércio e transação entre as partes. Essas reuniões periódicas que enchem de cor e energia os espaços. Aprecio a colorida e expressiva montra de gentes e produtos  locais.  Gosto de ver, ouvir e sentir um mercado local. Sempre que exploramos um sítio novo e, sempre que podemos, passamos pelo mercado local. É uma referência obrigatória para afirmar ainda com mais convicção, eu estive lá, eu conheço, eu fui ao mercado. Há mercados para todos os gostos, desde a vila mais pequena à mais urbana metrópole. Cá em Portugal, feiras e mercados não faltam. E é fácil recordar pelo menos um instantaneamente. A feira dos 28 em Aveiro, a Santa Catarina em Celorico, o Junho em Amarante, a feira do cavalo na Golegã, as feiras novas em Ponte de Lima, a feira da ladra em Lisboa, a vandoma aqui no Porto, mais recentemente ainda o PortoBelo ali na Praça Carlos Alberto também aqui no Porto. Tantas, tantas, impossíveis de inumerar aqui. Mas essa lista exaustiva é possível e existe mesmo. O Seringador, esse reportório crítico-jucoso anual, ferramenta de trabalho da agricultura, traz sempre uma lista das nossas feiras e mercados. Todas, em todo o país, durante todo o ano. Uma brilhante referência que nos diz, por exemplo, que hoje dia 25 de outubro foi dia de feira na Moita, em Anadia. Mas há um mercado que gosto particularmente e do qual sou cliente assíduo. O Mercado de Matosinhos. Um clássico, onde o peixe é rei e senhor. Fresco, variado e diretamente do mar. As peixeiras já me conhecem. Eu já lhes conheço (algumas) das manhas. Gosto duplo é, ao sábado, passar pelo mercado e logo a seguir saborear ao almoço um linguado fresquinho com um arroz de tomate. Que delícia! Por tudo isto e por todos os que já conheci, digo que gosto, gosto muito de feiras e mercados.


Helsínquia (Finlândia) | 2001
Jokkmokk (Suécia) | 2002
Budapeste (Hungria) | 2003
Frankfurt (Alemanha) | 2004
Marrakech (Marrocos) | 2004
Dublin (Irlanda) | 2005
Edimburgo (Escócia) | 2005
Barcelona (Espanha) | 2006
Santa Maria da Feira | 2007
Santa Maria da Feira | 2008
Kailua Kona (Hawai) | 2009
Funchal, Madeira | 2010
Roma (Itália) | 2010
Ribe (Dinamarca) | 2011


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Provérbios

Gosto, gosto muito de provérbios. Essas expressões do povo, que em pouco, dizem tanto. Esses ditos populares que condimentam o discurso e o tornam mais genuíno. Um provérbio é a alma pura da nossa identidade, o saber acumulado de gerações, o suspiro de emoções, o ensinamento do tempo maduro. A lista de provérbios populares portugueses enche provavelmente um compêndio volumoso. São muitos e cada um mais criativo que o outro. Estes provérbios são muito nossos, da nossa cultura, da nossa língua. Qualquer exógeno novo falante da nossa língua terá a lição dos provérbios nas últimas aulas do curso. Terá que desenvolver antes tanta gramática, tanto vocabulário e tantos significados que provavelmente nem lá chegará. Até hoje, raros foram os provérbios que ouvi da boca de um estrangeiro. Por isso, os provérbios populares permitem a quem os usa, uma imediata cumplicidade com quem os ouve. Uma empatia instantânea e gratuita. Sabê-los usar no momento e contextos certos é a chave do sucesso. De todos os que existem nesse tal compêndio imaginário, há sempre os clássicos, que andam na rua conosco e nos aparecem frequentemente pela frente. Recordo-me agora de alguns, os clássicos. De pequenino se torce o pepino; Grão a grão enche a galinha o papo; Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura; Devagar se vai ao longe; Roma e Pavia não se fizeram num dia; Amor com amor se paga; Não há luar como o de Janeiro nem amor como o primeiro; Quem feio ama, bonito lhe parece; Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje, etc... Os provérbios dão um bom tema de conversa e um exercício de memória excelentes entre amigos. Conheço poucos provérbios, mas gosto muito de conhecer novos e frescos provérbios. Noutros países também os há, que ditos poplares existem em todo o lado. Da língua franca, lembro-me apenas do pedagógico "an aple a day, keeps de doctor away", ou do chinês que, por sinal também o temos como português, "a palavra é prata, o silêncio ouro". Brilhante! Os provérbios são tão ilustrativos. Belas metáforas, belas rimas, belos exemplares da sabedoria popular. Por isso gosto, gosto muito de provérbios.



terça-feira, 23 de outubro de 2012

Fogo-de-artifício

Sinto o Tiago a crescer de dia para dia. É incrível como mesmo estando aqui, lado a lado, noto esta evolução. A nível físico sim, mas sobretudo a nível cognitivo. Este mundo exterior é uma curiosidade que não termina e, acordado, não pára de olhar, olhar muito, e esforçar-se por agarrar e entender tudo o que o rodeia. Pessoas, caras e expressões são o seu programa cultural favorito. Mesmo assim tenho insistido num outro programa, de espaços alternativos. Hoje fomos a pé ao Museu Papel Moeda, aqui ao lado na Fundação Dr. António Cupertino de Miranda. Um museu não muito extenso mas com uma valiosa e notável coleção de notas, cheques, ações, lotarias, papel selado e letras. Uma homenagem ao património fiduciário português, aprendi eu. Não foi um dos meus favoritos, mas ainda assim simpático recordar o escudo, os contos e conhecer ao vivo os "Reis". O Tiago gostou. Dormiu o tempo todo, tal era o sossego e a temperatura agradável do interior.

Mas hoje gosto, gosto muito do fogo-de-artifício. Esse raios de luz que rasgam o céu e explodem alegre e geometricamente por cima de nós. Essa manifestação universalmente festiva que alegra o céu noturno, que coroa com orgulho o ponto alto do cartaz das festas. Aqui no Minho, muito associado às romarias e devoções a santos e santas patroeiros da terra, o fogo-de-artifício é rei e senhor. A animação pode agradar a uns e desapontar outros, o cortejo etnográfico pode ser mais elaborado ou mais modesto, as barraquinhas podem ter mais ou menos negócio, mas o fogo de artifício faz as pazes com todos e obriga a uma pausa. De nariz erguido e pescoço esticado lá nos esforçamos por contemplar a obra que o artista preparou para essa noite. Criativo, luminoso, espetacular, subtil ou explosivo, que nos será servido nessa noite? As figuras são mais ou menos recorrentes, cogumelos de várias cores, serpentinas nervosas e sibilantes, nuvem de micro faíscas fulminantes, colares luminosos em queda livre a baloiçar, ou simplesmente pinceladas de cor aqui e ali. Mas o que distingue um bom fogo-de-artifício é a coreografia, o desenrolar da história, a sequência das figuras e claro a espetacularidade da apoteose final. Lembro-me sempre das festas de S. Tiago, em Celorico de Basto, com um fogo-de-artifício longo e estrondoso, todos os anos. O próprio Senhor de Matosinhos não se escusa a um bom fogo, em várias noites, a recordar as redondezas que ainda é verão. Mas mais espetacular ainda é o fogo-de-artifício sincronizado com música. Uma maravilha possível apenas com a capicidade de computação atual, com os CPU's a controlarem ao milisegundo cada rocket, cada explosão de luz com a euforia da banda sonora. O S. João aqui no Porto é um belo exemplo deste espetáculo. Com uma plateia bem distribuída entre ambas as margens do Douro, a simbiose de luz e som enchem os céus. Mas claro, Fogo-de-artifício com 'F' grande é o de Ano Novo, hora a hora, de Sidney a Nova Iorque. Uma montra da criatividade humana, televisiva e instantaneamente difundida para todo o planeta. Nisto tudo, perceber ainda que as melhores empresas pirotécnicas são lusas, é um orgulho enorme. No Festival Atlântico, na Madeira, assistimos em 2010 à demonstração do nosso melhor. Um orgulho e uma honra contar com tamanha excelência. Um espetáculo de verão, gratuitamente disponível em tantos lugares. E é tão bom celebrar a vida com um fogo-de-artifício. Por isso gosto, gosto muito de fogo-de-artifício.







segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Canela

Gosto, gosto muito de canela. Essa elementar especiaria que perfuma a gastronomia. Esse ar do oriente que invade, de quando em vez, as nossas casas. Esse perfume que adorna a nossa doçaria. A canela fica bem em quase todo o lado. Ainda a semana passada ousei colocar um pau de canela num bifinhos de peru salteados em azeite e alho. Uma subtileza doce que faz mastigar devagar, a tentar adivinhar que surpresa inesperada é aquela. No Oriente, a canela, uma das especiarias fundamentais é praticamente tão essencial como, para nós, o sal. Lá, usa-se e abusa-se da canela. Por cá, este aroma invade-nos e dá corpo a tantas receitas. Mas a canela para mim é ainda sinónimo de Natal, que aí vem. Se fechar os olhos e pensar em canela penso logo numa travessa de leite creme de ovos caseiros, quente, acabadinho de fazer, ornamentado por cima com um "Feliz Natal" escrito à mão com um fio de canela. Ou então a aletria, o arroz doce, ou a chila, vestidas com um ladrilho geométrico, também ele esboçado com canela em pó, que se desenha pacientemente, rolando o pó de canela entre o indicador e o polegar. Mas não é tudo. Um bom café expresso, já de si, aromático e bem intenso, como eu gosto, também ganha com a canela. Seja com um leve suspiro por cima, mesmo antes de mexer, seja com um pau de canela que ele próprio mistura e substitui a colher. Se ao café aliarmos ainda uma nata cremosa com massa estaladiça, ou um pastel de belém até, também eles perfumados com umas notas de canela... Hummm que delícia, que belo início de dia! E a canela está disponível por aí, nos restaurantes e cafés, gratuitamente e à disposição de todos em todos os lados. E como, pelo que sei não se conhecem contra indicações médicas, a canela é mesmo um dos prazeres desta vida. A saborear sempre e a celebrar todos os nossos natais. Por tudo isto gosto... gosto muito de canela.


domingo, 21 de outubro de 2012

Tascas

Gosto, gosto muito de tascas. Esses últimos recantos do tradicional, do parolo, do rural, mas sobretudo do genuíno. Uma tasca é um ponto de encontro de amigos, é aquele reduto onde nos podemos rir sem travões, onde a comida e a bebida algemam alegremente todos os que se sentam à mesa. Esses lugares onde apetite é maior. Numa tasca temos aquela atmosfera de cheiros, aromas, humores, temperos e sabores únicos que nos fazem degustar cada um das oferendas da cozinha como uma iguaria. Um tasco é também um ecossistema peculiar. O taberneiro de brutos modos ou a cozinheira atrevida apimentam ainda mais este gosto. Locais ideias para observar hábitos, usos, costumes e tradições. Sítios onde o tempo fica à porta, quer para nós, quer na decoração interior. Comumente uma tasca é e sempre foi assim. Curtido pelos feixes de luz mais ousados que penetram pelas pequenas janelas ou frinchas do telhado ou da porta. Muitos há ainda onde paredes, teto, colunas e tudo o demais pode ser um verdadeiro museu. Bem, museu não será o melhor qualitativo, tal é a desordem da "exposição", mais um repositório dos mais improváveis objetos. Alfaias agrícolas, muito comum; loiça com pratos, canecas, travessas e claro o santo antónio das caldas sempre; cachecois, bandeiras, bonés e demais adereços do clube da casa; notas antigas muitas, presas nos cantos por alfinentes ou melhor de todos, o que eu mais gosto, cantos de toalhas de papel a forrar tudo, com dedicatórias, agradecimentos, mensagens e demais prosa popular, ali desposada e à disposição de todos. Muitas tascas há por este país abaixo. Umas mais genuínas, outras mais populares, mas todos elas com o seu "je ne sais quois", ostentando sempre o título de "very typical". Lembro-me assim no momento de algumas. A Tasquinha da Alice (255381381) no Bobal, ali em Mondim de Basto, encantadora e a verdadeira tasca, com um pastelão de salpicão muito guloso. O Salto o Muro (229380870) em Matosinhos, já mais restaurante de cidade, mas ainda assim adornado com garrafões e mesas corridas, com umas tiras de presunto generosamente cortadas às tiras, enquanto se espera pelo jantar de peixe fresco. O Moscoso, ao lado do Nariz do Mundo, em Cabeceiras, faz uns bifes de vaca grelhados que se derretem na boca. O Albertino (238745266), em Folgosinho, Serra da Estrela, um clássico com muita fama, onde os 6 pratos servidos atestam, mais do que satisfazem as papilas gustativas. A Tasquinha do Fumo, em Soalhães, Marco de Canavezes, num recanto recente revigorado pelo folgor do novo percurso pedestre, tem umas pêras bêbadas embebidas em tinto quente com canela incríveis. O Martelo (232958884), em Silgueiros, Viseu, onde estive há muito muito tempo atrás, com chão em terra batida, onde preciso de voltar para refrescar a memória dos pratos. A Adega Evaristo (234424780), em Aveiro, atrás da Câmara, também mais urbano, mas ainda assim com bifes XXL. Tantos e tão diferentes. Todos eles com grandes recordações de belos momentos ali passados à volta da estrela da casa, a comida. Gosto, gosto muito e cada vez mais de Tascas.




LEGO

Gosto, gosto muito de Legos. Sempre gostei, desde miúdo. Um brinquedo que nos conduz pela vida e se adapta à evolução da nossa maturidade. Desconheço a maior parte das coleções, conjuntos ou edições especiais. Antes da maioridade e independência financeira tive apenas alguns sets, bons, mas só recebidos em alturas especiais, mas ainda assim, uma ínfima representação do universo Lego. Nessa altura, anos 80, deliciava-me com castelos, pontes, lanças, cavalos e cavaleiros. Agora com 34, fiquei surpreendido com a redescoberta desse meu gosto juvenil. A passagem pelo Legoland em Billund, na Dinamarca, em setembro de 2011,  avivou-me a memória e transportou-me ao passado. Pouco tempo depois e, já cá, não resisti e rendi-me ao consumismo e ao apetite de propriedade. Trouxe para casa um Space Shuttle (set 10231), agora peça de museu no original. Um prazer imenso voltar a montar cada peça, partir do nada e chegar ao todo. Seguir uma narrativa e adivinhar a história. Concretizar, conseguir e dar forma a 1230 peças. Cada uma no seu devido lugar, passo por passo, página por página. Sim, que parte do sucesso da Lego são os manuais de instruções. Um linguagem universal e intercontinental. Imagens, sequências e montagens testadas até à exaustão para não deixar dúvidas, para garantir que toda e qualquer cultura e ser humano interpreta da mesma forma e tem o mesmo grau de satisfação no final. Mas a Lego é muito mais que um brinquedo, é um conceito. Um modelo exemplar de sucesso. Um afago à auto-estima, onde qualquer um, por menos habilidoso que seja, se torna capaz de construir a mais elaborada das peças de arte. Como negócio, é simplesmente genial, e quase que uma bela metáfora para os dias que correm. Ole Kirk, carpinteiro dinamarquês, dilacerado pela crise de 1929, transforma um negócio convencional, numa indústria criativa de brinquedos estimulantes, modulares, seguros e de qualidade superior. No início em madeira, mais tarde em polímero. Solidamente ciente da alegria contagiante que estes brinquedos modulares podem proporcionar a crianças e graúdos. São caros é certo, mas sítos há onde se pode brincar com Legos, gratuitamente. Por exemplo, no recanto das crianças no aeroporto de S. Miguel, nos Açores temos Legos. Mas mais perto ainda, o genial Centro Lúdico de Oliveira de Azemeis, com Legos, brinquedos, livros e outros estímulos positivos, sobretudo para crianças, está aqui à mão, gratuitamente para quem quiser aproveitar. E a Ludoteca da Junta de Freguesia de Matosinhos, será que tem Legos? Não sei (ainda). Mas por trás da Lego está uma equipa de designers e criativos fantástica que transforma este e outros mundos numa simplicidade exímia. Uma equipa que recria o prazer da descoberta. Uma experiência única, esta de construir, desconstruir, e voltar a construir infinitamente cada conjunto. Um conceito universal que me faz afirmar ainda com mais convicção que gosto, gosto muito de Legos.

Legoland Billund | setembro 2011

idem

idem

Brinquem!




sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Silêncio

Gosto, gosto muito do silêncio. Da ausência de qualquer distúrbio, ruído ou som. Aquela atmosfera onde a audição fica extremamente irrequieta, por falta inusitada de qualquer estímulo. O silêncio reconfortante, que nos tranquiliza e nos devolve a paz de espírito. Recordo-me daquilo que me diziam o professores de edução musical. A melodia tem que ser sentida, cada nota tem que ter a sua alma, mas são as pausas ou, mais delicioso ainda as "figuras de silêncio" que dão corpo à melodia. Uma boa performance implica um respeito absoluto por cada pausa, na totalidade do tempo que representam. E ouvir uma orquestra em uníssono a "emitir" uma pausa, a emanar um silêncio, ao comando de um maestro que flete os joelhos, abre delicadamente as palmas das mãos oscilando os braços para baixo, como que apagando um lume quase extinto, é a imagem mais viva que retenho do silêncio. Mas este bem já não é universal. Temo até que neste boliço constante e crescente, o silêncio comece a ser raro, quase em vias de extinção. Ainda assim, na busca de silêncio de quotiano, ainda vou encontrando. Aqui em Celorico, a noite veste-se de silêncio. Aqui e ali interrompido pelo ladrar afoito de um cão de guarda. Nas noites de inverno, mais longas, mais frias e necessariamente obrigando a um recolher mais precoce, este silêncio mais frequente se torna. Que bom que é adormecer sossegado assim, sem barulho, sem camiões do lixo, sem ambulâncias ou carros de polícia, sem motores acelerados por perto, sem festivais ou queimas das fitas. O sono ganha, a saúde agradece, a alma recupera. Mas recordo-me ainda de outros momentos onde o silêncio, de ouro, me preenche. O Parque de Montesinho, tão recôndido, no limite da nação, ostenta ainda hoje silêncio terapêutico, grátis e para quem o quiser aproveitar. As igrejas menos visitadas, fora das celebrações, recolhem e ainda oferecem silêncio precioso para meditar ou simplesmente para estar. Mas bom ainda, descobri esta semana, é um museu. Um museu, em dia da semana. Um museu de arte contemporânea em dia da semana. O Centro de Arte Moderna Gerardo Rueda de Matosinhos. Ali ao lado de casa. Fui lá, na quarta feira com o Tiago. Um espaço curioso, com um acervo não muito extenso, mas ainda assim com uns esquissos de Mirró, por exemplo. Mas vale a pena também pelo silêncio. Um museu inteiro, só para nós, com o Tiago a dormir tranquilamente a sesta, proporcionou silêncio, paz e sossego. Tal como na música, gosto destes momentos breves de silêncio. Sabem bem e reconfortam. Preciso deles e por tudo isto gosto, gosto muito do silêncio.







Fontes, Fontanários e Nascentes

Gosto, gosto muito de fontes, fontanários e nascentes. Esse porto de abrigo da alma. Desse som cristalino da água a cair despojada no tanque. O xilofone desse gotejar que encanta e  reconforta instantanemanete. Esse som inconfundível que nos afasta as fobias e tranquiliza. Uma fonte de água pura é vida, um fontanário de água potável é frescura, uma nascente de água límpida é esperança. Gosto muito de fontes, daquelas que nos esperam e nos deixam encher o cantil, o Platypus, a SIGG ou simplesmente a mão côncava em forma de cálice para saciar a boca, sedenta de água. Não damos o devido valor às fontes, aliás infelizmente nas cidades não conheço alguma que não ostente o rótulo, "imprópria para consumo". A maior parte delas já secou, foi selada pelo delegado de saúde ou pura e simplesmente cansou e esgotou o líquido fundamental. Mas há uma exceção. Roma. As fontes de Roma, são uma imagem de marca. Dezenas distribuem capilarmente por toda a cidade água potável, inodora, insípida, incolor e incrivelmente fresca. Uma revelação e uma exceção urbana que nos surpreendeu! É certo que por cá a água potável ainda não escasseia. A rede alimenta e entrega-nos essa necessidade sem problemas. Mas a magia de uma fonte ou a referência de um fontanário são insubstituíveis. No interior ainda os há, puros e autênticos como no antigamente. Recordo como se fosse hoje, esse prazer, sentido no fontanário de Montouto, ao fundo da grande subida de bicicleta, de Dine para a Moimenta. Esse fontanário ali estava a cantar a melodia do descanso, à minha espera, revigorando os músculos e retemperando forças para o resto da jornada. Água límpida, livre e gratuita. Mas e as nascentes? Discretas e recôndidas no topo das serras, puramente preservadas ali bem perto do céu. Ou então as subterrâneas  e subtis, que borbulham debaixo dos nossos pés, sem nos darmos conta. A visita à mina de Arca d'Agua, aqui no Porto, há uns anos atrás uma autêntica revelação! Estas nascentes, uma maravilha da natureza, a roda dentada fundamental deste ainda mais fundamental ciclo da vida. Tantas emoções, tantas histórias, que só posso confessar que gosto... gosto muito de fontes, fontanários e nascentes.

Fonte de Trevi | Roma

Mina de Arca de Água | Porto


Fonte pública | Roma

Nascente termal Terra Nostra | S. Miguel - Açores


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Pão da Avó

Gosto, gosto tanto de pão da avó! Quente e acabado de fazer. Um prazer que não se esgota. Pedir ao balcão pão da avó, sair da padaria e não resistir. Subtrair logo nos primeiros metros um dos pães do saco, escolher o mais branquinho, que gosto dele pouco tostado, e abri-lo a meio. Quebrar a côdea e desvendar o miolo que se revela logo ali, envolto numa nuvem misteriosa de calor. Huumm que delícia! E a textura? O exterior crocante e intenso a contrastar com o interior macio como uma nuvem mas ainda assim resiliente como uma almofada. Descobri tarde o pão da avó. Em Celorico não havia. Só mais tarde em Aveiro o conheço. Que surpresa. «Queria 6 pães da avó se faz favor» ainda hoje é um hábito quando passamos por Aveiro. Vale a pena parar e pedir pão em Aveiro. As panificadoras da cidade ainda hoje são exímias na sua confeção. A farinha, a água e até o sal, tudo da dose certa. Para já não falar da temperatura do forno e no tempo de cozedura, cronometrado ao segundo. Mas conseguir chegar a casa, com o calor ainda no saco, esfregar uma faca de manteiga neste pão aberto a meio com as mãos, sem faca, e saborear devagarinho de olhos fechados, com cada uma das papilas gostativas o naco de pão assim adornado é sublime. O pão da avó é uma maravilha. Uma maravilha do nosso país. Quando não o temos por perto, sentimos a falta. Talvez tenha sido por isso que, há uns tempos atrás, um casal americano que o meu irmão conheceu, lhe pediu um favor, se ele lhes podia levar uma lembrança da Europa. «Podes-nos trazer pão?» Afinal não sou só eu que gosto. Mas que gosto, gosto muito. Gosto muito de pão da avó!




Cócegas

Gosto... gosto muito de cócegas. Aquelas que nos disparam uma gargalhada profunda, mas que logo a seguir acalmam, a tempo de voltar a respirar. Aquelas cócegas inocentes que fazemos a alguém, com o único propósito e prazer de ver rir, rir muito, com gargalhadas embrulhadas pelo próprio corpo. Também aquelas cócegas matreiras, que se aproximam da presa como um felino, que disfarçam a intenção e que, chegado o momento certo... Zás! Atacam e detonam uma granada contagiante de riso e energia. Dizem os clínicos que rir faz bem. Liberta hormonas com sinal mais, revigora-nos a amplia-nos a saúde. Faz bem ao sistema imunológico, ao coração, à cabeça, ao stresse, à pressão arterial mas faz bem, sobretudo à alma. As cócegas podem não dar felicidade duradoura, mas com tão pouco conseguimos, por instantes, ficar ou transformar alguém na pessoa mais feliz do mundo. Não entendo a antropologia das cócegas. Porque raio é que o ser humano se desfaz em peças, a rir, com as cócegas? Porque terá a seleção natural evoluído as cócegas? Com que própósito? Proteção rápida e involuntária do corpo? Talvez. O tato, este sentido sentido, com uma rede imensa de sensores que nos cobre a todos e a cada um de nós, em cada milímetro de epiderme consegue, em poucos segundos tomar comando integral do corpo. Uma cócega suave, ao de leve, quase quase sem tocar, eriça os poros da pele e qual ouriço caheiro assustado, uma cócega destas faz "pele de galinha" e apruma a penugem do corpo. Mas curioso ainda são as cócegas que não o chegam a ser. Fechar os olhos e temer uma cócega, dá mais cócegas do que a própria cócega. Incrível e delicioso o jogo e boa disposição que estas cócegas me dão quer a dar quer a receber. Um jogo solidário, onde quem dá recebe risos e quem recebe entrega energia e boa disposição! Grátis e automaticamente. Por isto tudo gosto... gosto muito de cócegas!


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Miradouros

Curioso! Ontem falei do olfato e hoje fiquei com a impressão que o Tiago sentiu a falta do cheiro da mãe! Será possível? Parece-me que sim. E aí rendo-me. Não há pai que consiga dar ao bebé o conforto do cheiro da mãe. Pode ter tudo, mas isso não. Lá está, a natureza exímia, a dotar a um ser tão inocente com uma destreza cirúrgica de distinguir a mãe sem dúvida alguma. Para o pai, a única esperança é que o seu cheiro, embora incomparavelmente menos atraente, possa um dia trazer à sua memória recordações tão reconfortantes como o da mãe. A ver se este mês serve também para esse exercício !

Agora hoje gosto... gosto de miradouros. Esses lugares priveligiados que permitem contemplar a imensidão do horizonte. O trono onde qualquer um pode ser rei. A ponta do indicador de uma montanha em bicos de pés. A vigia atenta de uma falésia. O pódio olímpico de um montanheiro. O retiro romântico de namorados num pôr-do-sol melancólico. Sinto-me bem num miradouro. Gosto da certeza que me garante. No topo de uma montanha, a soberania do lugar. Numa falésia, a fronteira abrupta do solo firme. Lembro-me de alguns, o castelo de Arnoia em Celorico, o alto da Penha em Guimarães, a Senhora da Graça em Mondim (soberbo), a Frecha da Mizarela em Arouca, o Cabo Girão na Madeira, Santa Luzia em Lisboa, serra do Pilar em Gaia ou até os jardins do palácio Rosa Mota aqui no Porto. Mas os miradouros mais incríveis, para mim, são mesmo o topo das montanhas. Associado a tudo a resto, a sensação de conquista de quem lá chega e a recompensa do 360º, estando lá, são indescritíveis. O topo do Kilimanjaro é sublime, o "piquinho" do Pico nos Açores é deslumbrante, até a Torre da Serra da Estrela é peculiar e merece ser conquistada. Este verão estivemos com o Tiago em S. Miguel. De carro ainda, três miradouros incríveis, do menu imenso que os Açores oferecem: vista do rei sobre as sete cidades,  pico do ferro sobre as furnas e lagoa homónima e miradouro sobre a lagoa do fogo! Gosto, gosto muito de miradouros!


Miradouro da Lagoa de Sete cidades (Vista do Rei)

Miradouro da Lagoa do Fogo

Miradouro da Lagoa das Furnas (Pico do Ferro)