segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Regresso


Voltei, voltei hoje do país das maravilhas. Recomecei a trabalhar, voltou a azáfama dos dias, terminou o mês da paternidade, esgotou-se toda a licença de parentalidade. Faço-o com a nostalgia deste mês vencido, com saudade deste período de ouro, mas com a memória dos bons momentos vividos e o conforto de saber que fiz o meu melhor para as melhores memórias de infância do Tiago. Confesso que gostei, gostei muito. Vivi intensamente cada dia com o privilégio de assistir hora a hora ao crescimento e amadurecimento do Tiago. Uma experiência de vida, um gosto enorme poder, como pai, fazê-lo assim de tão perto e em exclusivo. Vestir a pele da responsabilidade do trato de uma criança ainda tão dependente. Assumir a disponibilidade total para resposta às suas necessidades mais elementares. Garantir toda a segurança, a todo o momento, em todo o espaço à sua volta. Gerir o cronograma de todas as tarefas diárias, em total sincronia com a prioridade do bebé. É bom poder fazê-lo sem preconceitos e com orgulho, hoje. Honra seja feita ao nosso país, a todos os que tornaram possível esta realidade do pai tomar um papel ativo no processo. Entendo que este relato é tudo menos universal. Cada casal, cada mãe, cada pai, vive a paternidade à sua maneira. Nós deliciamo-nos com o Tiago, este bebé tão social, tão bem disposto e tão curioso. Talvez por ser assim este “bebé fácil”, como dizem as enfermeiras, também nos seja a nós mais fácil a tarefa dos cuidados, não sei. Registo apenas que o mês exclusivo do pai é um luxo. Exige energia, vigor, paciência, empatia, destreza, energia, energia, energia, é certo. É uma tarefa totalmente absorvente, mas o bónus realiza. A comunicação é a maior das conquistas. Ao fim deste tempo, entendemo-nos ainda mais os dois. Sei quando tem fome, quando tem sono ou quando tem algo mais a precisar de outra fralda. Sei também que o Tiago é um excelente companheiro de rua e de viagem. Um atrator de estranhos. Neste mês apenas num dia ficamos total e deliberadamente em casa. Em todos os outros saímos à rua, fomos a algum sítio novo. O Tiago gosta, gosta muito e o pai alivia a pressão da prisão domiciliária. Um ato deliberado com a consciência que a minha boa disposição é catalisador da felicidade do Tiago. Assim frequentamos um curso de “educação para a parentalidade” aqui no exemplar Centro de Saúde de Matosinhos, percorremos quilómetros de marginal em todos estes dias de sol que tivemos a sorte de ter, fomos ao mercado, preenchemos todos os fins de semana com a família e os amigos, fomos à médica, ajudamos a mãe a agilizar a agenda, descansamos nos bancos do jardim, passamos fugazmente pelo centro comercial e... fomos a vários museus. Esses espaços perdidos na cidade onde, durante a semana nada se passa. Esse ambiente hiper tranquilo, de fácil mobilidade, com atmosfera selecionada na temperatura e humidades certas, deram ao Tiago as condições ideais para um sossego impossível de conseguir em qualquer outro espaço. Mas os transeuntes foram a maior surpresa com comentários hilariantes. Os gostos que aqui publiquei e que ontem dei por concluídos foram também parte da inspiração recíproca. Para mim como exercício de introspeção positiva, para o bebé como consequência direta desse meu melhor estado anímico. E funcionou. Essa ativação reticular, ou esse estado mental induzido que nos leva a estar mais atentos aquilo que evidenciamos deu-me um alento novo. Quase como que um antídoto natural ao marasmo da rotina diária que tantas mães se queixam. Foi um exercício excelente este que orgulhosamente cumpri e que aqui fica como poção, para mais tarde tomar, reler e reanimar caso seja preciso. Ao correr da pena, tudo foi instantâneo, tudo foi sentido, tudo foi carinhosamente partilhado. Agora outra etapa se segue. Novas descobertas se avizinham, na esperança que neste virar de página nos esperem tantos e tão mais momentos mágicos com o Tiago, o mais encantador dos bebés deste 2012.


Cais de Gaia | 9 de novembro 2012, último dia útil da licença de paternidade

sábado, 10 de novembro de 2012

Aves

Gosto, gosto muito de aves. Das criaturas mais espantosas à face da Terra. Na base ou no topo de uma cadeia alimentar, estes seres vivos que dominam o nosso planeta. Que se adaptam às mais adversas condições, sobrevivem com o mais parco dos recursos. E há aves para todos os gostos. Exóticas, exuberantes, de grande porte, minúsculas, com bico aguçado, com bico achatado, com penas longas, quase sem penas, diurnas ou notívagas. Tantas e tão variadas que conhecer-lhes as caraterísticas é um desafio que exige prática, dedicação e paciência. Gosto particularmente das aves de rapina. Águias, milhafres, falcões, abutres, búteos, açores e milhafres. Excelentes voadoras, altivas, poderosas e com um porte impressionante. Espécies protegidas, são exemplares únicos da minúcia da natureza em aprimorar autênticas máquinas soberanas do seu território. Com uma visão incrível e uma destreza voraz, dominam e inquietam. O Douro internacional, em Freixo de Espada à Cinta, é um excelente miradouro de aves de rapina. Os grifos voam e sobrevoam a paisagem e dali, do Penedo Durão, pode-se apreciar a ligeireza dos seus voos atentos. Mas foi no Alentejo, em cativeiro é certo, mas ainda assim, em ambiente natural que assistimos à manutenção física das aves que a falcoaria da Codelaria de Alter mantém. O privilégio de participar nessa rotina diária, pondo as aves a voar livremente, enquanto se exercitam a "caçar" as presas que os tratadores lhes atiram pelos ares, é uma experiência incrível. Foi em 2010 que lá estivemos, e adorámos. Mas nas aves gosto também do canto. Esse xilrear que preenche o campo e entra pelos ouvidos dentro como uma melodia harmonisosamente compilada pela natureza. O canto das aves livres é sublime. Outra performance que gosto nas aves é a sua dança pelos ares. Sozinhas e apressadas, ou melhor ainda, em bando. Ver um bando de aves deixa-me fascinado. E as migrações? Esse fenómeno incrível que desloca milhões de aves todos os anos, de um lado para o outro. Nós em Portugal somos uns priveligiados. Somos um "hot spot", ou de outra forma, um importante ponto de passagem das migrações. Isso significa que por cá passam essas rotas que nos dão a oportunidade de observar bem de perto a azáfama dessa busca incessante de alimento. Lá fora, há milhares de pessoas que têm como passatempo a observação de aves. Cá não é tão frequente. Mas essas pessoas sabem que Portugal é um destino de eleição para se ver as aves. Gosto das migrações, gosto de ouvir as andorinhas chegar na primavera. Mas gosto  especialmente de ver essas nuvens de aves que se agitam nos céus como que por magia, com movimentos ora lentos ora bruscos. Um fenómeno raro, possível de observar sobretudo em época de migrações. Por tanta inspiração que a aves me dão. Gosto, gosto muito de aves.






sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Jornais

Gosto, gosto muito de jornais. De os ter por perto, de ter tempo para os  ler, de os ler atuais. Gosto do género literário jornalístico, formatado com um lead inicial seguido de um corpo que nos vai respondendo ao quem, quando, onde e como. Mas gosto também das variações. Crónicas, entrevistas, reportagens, artigos de opinião, infografias, suplementos e até os editoriais. Gosto particularmente dos editoriais. Essa coluna inicial que chama a atenção para algo importante e nos aguça o apetite. Os jornais diários são os meus favoritos. O Público é a minha referência. Uma linha editorial que apresenta notícias e dá destaque não só aos temas quentes do momento, mas também a grandes feitos da humanidade ou então da política e da arena internacional com idêntico protagonismo. Vibro sobretudo quando o Público destaca na primeira página a ciência. A chegada do rover da NASA a Marte, a descodificação do genoma humano, a descoberta de mais um punhado de exoplanetas. O Público é único por isto, pondera e seleciona lindamente vários assuntos, de vários temas, ao longo do tempo. Ler a versão papel do jornal é um genuíno prazer. No sofá, calmamente a virar página por página, a varrer com os olhos primeiro os títulos de ambas as páginas e a selecionar a nosso bel prazer qual a notícia que irá ter o privilégio da nossa atenção. É bom esse momento de concentração e dedicação à atualidade. Mas nos últimos tempos, os jornais são muito mais que papel. As versões digitais atualizam a notícia praticamente ao segundo e esse poder chega-nos às mãos logo. No telemóvel leio as notícias rápida e fugazmente. Ao longo do dia, nos intervalos da rotina, ponho-me a par das notícias e, sem o saber, bebo toda essa informação e mantenho-me atual. A meio do dia, alguém fala duma notícia e eu, sem o saber digo, já ouvi isso em qualquer lado. Incrível esta capacidade de gerar e absorver informação. Com todas as plataformas disponíveis leio, leio o Público diariamente e gosto, gosto muito. Estes dias que tenho estado com Tiago confesso, têm sido exceção, propositadamente também para quebrar a rotina. Mas sinto-lhe já a falta. De ver e ouvir notícias de jornal, as minhas preferidas. Mas nos jornais gosto também dessas notícias laterais. Aquelas que nos inspiram e que nos relatam feitos nossos. Descobertas da ciência, revelações demográficas, análises factuais da condição humana, homenagens a efemérides, personalidades ou instituições. Gosto ainda das notícias temáticas, viagens, vinhos, cultura, eventos ou estilo de vida. Depois há ainda os diários económicos que me chegam às mãos diaria e gratuitamente todos os dias. Leio também e gosto sobretudo quando nos trazem estórias de sucesso e prosperidade das nossas empresas portuguesas. Os semanários são outro campeonato. Mais abrangentes, mas generalistas, mais extensos. Um excelente separador do ritmo da semana para o de fim de semana. Nestes gosto particularmente do Expresso. Não só pela variedade dos cadernos, mas também pela qualidade da redação.  Porque me fazem sentir vivo, porque me alimentam a pertença, porque me integram no mundo, gosto, gosto muito de jornais.



quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Meu país

Gosto, gosto muito do meu país e tudo o que ele representa. Os recursos, as gentes, a cultura, o património, a gastronomia, as idiossincrasias, tudo. Portugal é um país encantador. Qualquer nativo é suspeito a falar do seu próprio berço, mas que temos cá tudo para sermos felizes, lá isso temos. Senão vejamos. O território em si é pródigo em recursos. Os campos transbordam fertilidade, de norte a sul. Até o árido Alentejo parece agora ganhar um novo fôlego com a nova irrigação do Alqueva. O clima ajuda e traz a constância que os alimentos precisam para germinar, crescer, florescer e dar o derradeiro fruto. Mas mais extenso e rico ainda é o nosso mar. A gigante zona económica exlusiva, a maior da Europa, é um recurso único que nos traz alimento, navegação, lazer e soberania estratégica internacional. Mas este nosso país somos também nós. As pessoas, as gentes, as comunidades. Todo um coletivo que se relaciona, interage e dá cor à nação. E exlcuindo esterotipos, sempre redutores, nós somos e sabemo-lo bem, boa gente. Um cabaz multi-étnico com vários tons de tez. Fruto de séculos de interação com tantos povos, dos continentes vizinhos, de África ao norte da Europa. Somos todos portugueses, independentemente da cor da pele, do rasgo dos olhos, do porte do corpo ou da tonalidade capilar. Nós sabemos receber, sabemos estar, mediar, acolher, reconhecer, sabemos interagir ecumecicamente com qualquer cultura, sabemos liderar, sabemos obedecer, sabemos fazer, sabemos! Quando vou, levo sempre Portugal no coração, com este legado todo para partilhar e polinizar por esse mundo fora. Dizer com orgulho que este nosso país é encantador. Mas levo-o também na mala. Uma bandeira lusa que me tem acompanhado para inúmeros sítios. Um símbolo que dá gozo erguer e fazer esvoaçar nesses destinos de eleição. No Kilimanjaro da Tanzânia, no Toubkal de Marrocos, na Praça do Obradoiro de Santiago de Compostela, no Cabo Norte da Noruega, na abadia de S. Michel de França. Em todos eles ergui alto ao vento a nossa bandeira. Dá gozo ainda e emociona ver um feito dos nossos. Uma medalha olímpica, uma classificação suprema, uma conquista estoica. Honra seja feita à prata deste ano, Emanuel Silva e Fernando Pimenta fizeram, com a canoagem erguer a nossa bandeira em Londres. Mas outros resultados foram igualmente supreendentes, apesar de não terem tido podium. Jessica Augusto num incrível sétimo lugar na maratona feminina, ou ainda o trio Tiago Apolónia, Marco Freitas e João Monteiro numa prestação incrível no ping pong até aos quartos de final. Para além dos olímpicos, gosto ainda muito de acompanhar o arrojo dos nossos novos exploradores. Os homens da montanha que são já hoje uma referência internacional. João Garcia, o décimo alpinista a conseguir vencer as catorze mais altas montanhas do planeta sem recurso a oxigénio, numa proeza notável. E que dizer do Carlos Sá? O nosso ultramaratonista que leva a nossa bandeira às mais duras corridas do mundo e que este ano ficou em quarto lugar na prova raínha do monte branco. Impressionante! Mas o país é também cultura. Este ano, acolhemos até a capital europeia. Guimarães tem-se desdobrado em múltiplas iniciativas, criativamente com tudo o que o apertado orçamento permite. Eu sou voluntário da capital. Sempre que pude fiz parte e aliei-me aos eventos. Poucos, mas os suficientes para sentir a emoção e energia do omento. Uma experiência incrível. Neste momento e, até dia dezassete, Guimarães Jazz. Mas tanto mais havia para dizer de Portugal, telegraficamente de uma assentada só: Joana Vasconcelos, Fátima Lopes, José Mourinho, Sobrinho Simões, Dulce Pontes, Aristides de Sousa Mendes, Siza Vieira, Manoel de Olveira, Carvalho Rodrigues, Rosa Mota, Paula Rego, Elvira Furtunato, chef Ricardo Costa, nós todos! Por tudo isto gosto, gosto muito do meu país.


O dia há-de nascer 
Rasgar a escuridão 
Fazer o sonho amanhecer 
Ao som da canção. 
E então... 
O amor há-de vencer 
E a alma libertar
Mil fogos ardem sem se ver 
Na luz do nosso olhar 
Na luz do nosso olhar. 
Um dia há-de se ouvir 
O cântico final 
Porque afinal falta cumprir 
O amor a Portugal!


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Elementos

Gosto, gosto muito dos elementos. Dos quatro sem distinção. Da água, da terra, do fogo, do ar. Esses constituintes do nosso mundo que nos alimentam, nos amparam, nos aquecem e nos refrescam. Sempre disponíveis para nosso conforto e sobrevivência. Os elementos são uma das maravilhas da natureza. Um mecanismo hábil de conduzir a vida, de renovar, de alimentar o ciclo vital dos animais e das plantas. A água, esse elemento químico que temos como suporte à vida, abunda por cá. Tanto no planeta, como nos nossos próprios corpos. Mais de setenta por cento da superfície da Terra é coberta por água ou mais de setenta por cento o nosso corpo é também ele constituído pelo líquido fundamental. Presente nos oceanos sobretudo, a água está também presente nos rios, nos lagos e na atmosfera. A terra, materializada em continentes e ilhas, é a fonte do nosso sustento. A origem do nosso alimento, a base mais elementar da nossa existência, a raiz das nossas esperanças. A terra da Terra é única. Rica em nutrientes essenciais, coloca-nos à superfície o melhor do seu esforço. Já o fogo, sempre que dominado, transforma e purifica o nosso mundo. No calor retemperador de uma lareira no inverno, na intensidade de um fogão que distribui a sua energia pelos alimentos cozinhados ou ainda no romantismo de uma vela carinhosamente acesa. O fogo faz parte de nós, o fogo é-nos essencial. Mas só o ar, a atmosfera, permitem a perfeita sintonia da vida e da harmonia da biosfera. As trocas gasosas essenciais para assegurarem o ciclo da água, as variações de temperatura necessárias à evolução das espécies. O ar que respiramos é um bálsamo para o corpo, um tónico para a alma. Vale a pena, sabe bem e é gratuito, respirar, respirar conscientemente. Inspirar bem fundo, fechar os olhos, reter por breves instantes o ar, expirar lentamente todo o ar, até ao fim. Repetir uma vez, outra, e outra ainda. Uma lufada de ar fresco, vigorosa, sem mais adereços. E gosto ainda dos elementos transformados. No seu devido momento são uma delícia e gosto de os apreciar. Um dia de chuva não é necessariamente mau, como tantas vezes se ouve na metereologia. Como costuma dizer um amigo «hoje está um excelente dia de chuva». A chuva é uma benção e é tão bom tê-la por perto. Precisamos apenas de nos proteger em conformidade. Se assim for, andar no exterior à chuva, não só não é mau, como é uma das experiências mais autênticas da nossa existência. E as noites de nevoeiro? Adoro uma noite de nevoeiro, na aldeia, a pé, sentir o silêncio dessa nova acústica, sentir nos ombros a proteção daquele manto leve, olhar para uma nova paisagem difusa. No fogo espanta-me sobretudo o que emana dos nossos pés. A lava dos vulcões. São um dos fenómenos naturais mais espantosos que podemos assistir. Nos Açores este verão, as furnas denunciam um fogo grande logo ali por baixo, mas foi no Hawai'i, em 2009 que vi de perto o fulgor da lava, a sua intensidade, o seu contraste, a sua vida. Impressionante! Nisto tudo vale a pena sobretudo estar atento. Aproveitar cada oportunidade para ver, ouvir e sentir os elementos. Que um dia de chuva nos encha de entusiasmo, que um dia de vento nos faça um papagaio voar, que o calor do sol nos leve até ao mar, que a textura da terra nos caia pelo dedos das mãos.

ÁGUA | Parque Nacional de Aiguestortes e Estany de St Maurici (Pirinéus), julho 2011

Terra | Dine - Parque Natural de Montesinho, agosto 2008

Fogo | Big Island - Hawai'i, março 2009

Ar | Parque Eólico offshore - Dinamarca, setembro 2011

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Firmamento

Gosto, gosto do firmamento. Esta abóbada celeste que nos enquadra o infinito. Esta tela que nos configura o horizonte distante. O céu. O firmamento foi no passado, é hoje, e sempre será uma inesgotável fonte de inspiração humana. De dia o firmamento alimenta-nos a a meteorologia mais próxima, o tempo que vai fazer nesse instante, ou dali a dias, a intensidade dos raios solares fonte de vitamina D, a quantidade de chuva para o quintal, as rajadas de vento para os velhos moínhos, o número de horas diurnas para acertar o nosso ciclo circadiano. De dia gosto de olhar para as nuvens, imaginar padrões, reconhecer formas, tentar identificá-las, observar-lhes a pressa, admirar a sua transformação. Mas é à noite que o firmamento se revela em todo o seu esplendor. Um espetáculo colossal, quase todas as noites, gratuito e para todas as idades. A astronomia amadora, esse passatempo dedicado à contemplação do firmamento, é um misto de ciência, romance, descoberta e partilha. Sempre que tenho oportunidade, sempre que as estrelas brilham no céu olho para elas e cumprimento-as, trato-as pelo nome. Sinto-me confortável por reencontrá-las sempre lá, a dançar ao sabor das horas, dos meses, das estações. No firmamento noturno a vista perde-se, precisamos de um mapa. Uma localização dos objetos que ali estão, naquele momento disponíveis e ao alcance. A olho nú centenas. Estrelas, enxames, galáxias, nebulosas, planetas e a nossa Lua. Com binóculos a profundidade de campo aumenta e o alcance é maior. Com telescópio toca-se ainda mais fundo. Nos confins recôndidos da tela. É um gozo ver ao pormenor as crateras da Lua, desvendar a cor avermelhada de Marte, identificar as luas de Júpiter, explorar a luz difusa da galáxia de andrómeda, admirar a subtileza da nebulosa de orionte. Mas no firmamento há ainda mais, muito mais. As estrelas cadentes, essa recompensa para qualquer observador mais paciente, que todas noites rasgam os céus e nos trazem desejos de ver a próxima. As auroras boreais, esse mágico fenómeno apenas visível mais a norte, de uma imensidão incrível. Tive já oportunidade de observar várias auroras boreais na Finlândia. Desde as mais frequentes, com um padrão verde, até às mais raras vermelhas vivas. Um fenómeno incrível que o firmamento nos proporciona. O firmamento é um poço inesgotável a contemplar e eu gosto, gosto muito de ver, fruir e sonhar com o que está lá em cima no firmamento. 


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Celebrar

Gosto, gosto muito de celebrar. Festejar, alimentar a alegria de compartilhar momentos, nutrir a boa disposição de estar juntos, fruir da felicidade dos bons momentos. Celebrar. Celebrar as conquistas, os marcos cronológicos, os momentos assinaláveis, os pontos comuns entre nós. É bom ter escusas para celebrar, ao longo da vida. Assimilar um conjunto incontável de momentos notáveis, que ficam na memória, vale a pena. Um aniversário, uma passagem de ano, uma véspera de Natal, um santo popular, uma medalha olímpica, um projeto terminado, uma dificuldade superada, um filho nascido, uma amizade reforçada, um jantar divertido, uma noite romântica, uma vida preenchida. Tanto, tanto, tanto para celebrar. Temos muito que celebrar. Os amigos ajudam a preencher este apetite voraz. Ainda este fim de semana estivemos juntos com amigos, de sexta a sábado. Todos juntos, a partilhar espaço, mas sobretudo a dar espaço para a partilha, para uma pausa do ritmo frenético do dia a dia, a celebrar esta conquista de termos conseguido sincronizar agendas naquele momento, naquele sítio. A atualizar informações, a comer bem, a beber ainda melhor, a rir, a celebrar. Um bálsamo para a alma, uma lufada de ar fresco para a força anímica. É bom partilhar esta alegria que assim ganha ainda mais força e fôlego. Peguem nos copos por favor, vamos fazer um brinde. Vamos celebrar. Um brinde a todos nós. Bem haja. Xim xim!


domingo, 4 de novembro de 2012

Singularidade da presença

Gosto, gosto muito da singularidade da presença. Ter o privilégio de estar em exclusivo num sítio único, deslumbrante e arrebatador. Sem nenhum estranho, sem nenhum  desconhecido. Estar aí apenas só ou com os nossos. Saborear esse momento, essa presença. Interiorizar a singularidade desse exclusivo. É na montanha que mais sinto este prazer. Subir lentamente por um trilho, largar a vegetação densa da baixa altitude, ganhar cota, vencer um desnível, enxargar longe a paisagem, sem mais ninguém por perto é simplesmente delicioso. Devolve-me um sentimento de pertença e total sintonia com a natureza, com o universo. Oferece-me um exclusivo que por vezes quase me parece impossível. Como é possível que um sítio daqueles, naquele momento seja só meu? Onde é que se arrumaram cada uma das sete mil milhões de pessoas? É de facto um gosto meu, fugaz é certo, mas intenso. Difícil de alcançar, ainda assim frequente o suficiente para lhe dar o devido destaque. Mas este sentimento, esta singularidade que sinto e saboreio não é exclusivo da montanha. Ocasionalmente ao fim de semana, numa simples incursão de BTT pelas cercanias de Celorico, sinto isto. A escassa distância de casa, dou por mim em cenários de vistas largas, polvilhados aqui e ali pelos sons da natureza. E ali estou eu, num local único, em exlcusivo só para mim. Mas o mais recente momento foi há instantes. Estamos em Lisboa, alojados em Belém. Antes de jantar saímos com o Tiago e fizemos a promenade dos Jerónimos. Um passeio calmo, aqui e ali com pequenos grupos, maioritariamente em modo de despedida a denunciar provavelmente o final de alguma cerimónia de domingo na Igreja. O passeio banal e não muito demorado na rua era o programa. Mas as portas do mosteiro estavam abertas, como que a convidar. Entrem! E nós entramos. Já tinha estado várias vezes nos Jerónimos. Aliás, em noventa e oito cheguei mesmo a morar aqui ao lado durante cinco semanas. Mas hoje o interior do Mosteiro foi especial. Quando entramos havia ainda uma ou outra pessoa a arrumar o espaço. Estava também um casal só sentado num dos bancos. Mas, pouco depois, ficamos só nós. Nós os três e o Mosteiro dos Jerónimos, naquele instante em exlcusivo, gratuitamente e em todo o seu esplendor. A nossa presença eclipsa-se tal é a grandiosidade do espaço. Um privilégio ter assim, naquele momento, por muito fogaz que seja, esse privilégio, esse gosto que tanto prazer me dá. Por isso gosto, gosto muito da singularidade da presença.

Carlos Sá, nosso grande ultra-marationista, nos Alpes

Eu no Penedo Durão, em Freixo de Espada à Cinta | março 2008

sábado, 3 de novembro de 2012

Sombras e Silhuetas

Gosto, gosto muito de sombras e silhuetas. Essa realidade que nos rodeia e que não ocupa espaço, esssa imaterialidade que nos cerca, sem nunca nos invadir. As formas oursadas, distorcidas, exageradas ou minguadas dos nossos corpos, do nosso mundo. As sombras, essas entidades bidimensionais que recortam o que lhes deu origem, que decalcam as fronteiras da existência. As sombras são uma fonte inesgotável de informação, gratuitamente disponível à nossa volta todos os dias, assim haja luz suficiente para se revelarem. Mas as silhuetas são ainda mais inspiradoras. Um foco de luz milimetricamente tapado por um corpo. Uma barreira violenta e impenetrável à fonte de luz que se afigura por de trás. Uma expressão visual extremamente expressiva do contra-luz. São românticas as silhuetas. Sem o mostrarem insinuam, estimulam a imaginação, preservam o essencial desvendando apenas o necessário. Sombras e silhuetas atrem-me não só pelas formas, mas também pela negação daquilo que são. A antítese da luz, o contraponto da existência. As sombras, para nós, andam em contraciclo. Quando os dias crescem e o sol sobe mais alto, as sombras encolhem-se e envergonham-se. Quando o inverno se aproxima, e o sol teima em baixar a sua rota, as sombras alongam-se e dão fôlego aos egos mais introvertidos. «Olha só para mim, como sou grande!». Uma sombra é também amparo e porto de abrigo. Do calor, do verão, da violência dos raios ultra-violeta do sol. Uma sombra protege, ampara e refresca-nos. Valha-nos uma sombra no verão. Há também as sombras preguiçosas como a do lucky-luke, sempre mais lenta que o herói. E há as sombras mais famosas da humanidade, essas que já tanto deram que falar, que tantos mitos originaram, que tanta espetacularidade nos trouxeram. De que falo? Eclipses. Essa manifestações planetárias do expoente máximo das sombras. Ou a sombra da nossa Terra projetada na lua, num eclipse lunar, ou a sombra da lua projetada em nós, com um eclipse do sol. Total, parcial ou anelar, um eclipse é um fenómeno mais ou menos periódico que agita a comunicação social, que nos provoca alterações de hábitos e nos inspira. Gosto, gosto muito das sombras dos eclipses. As sombras e silhuetas são pois um recurso gratuito cheio de valor. Há uns anos atrás, a pensar num projeto, um tópico, um motivo de atenção para um projeto fotográfico a longo prazo, lembrei-me precisamente das sombras. O "projeto sombras" como lhe chamo. Em cada viagem, em cada recanto, em cada momento estar atento, estar atento às sombras. Registar, fotografar e avaliar o que daí sai. Tentar extrair a essência de algo, apenas e só pelo registo nú da sua sombra. Será que vale a pena? Será digno de nota este registo? Olhando para alguns desses registos, diria-me que sim. Cada sombra, um momento, um momento mágico, um gosto. Descobri assim afinal que gosto, gosto muito de sombras e silhuetas.



Batismo de parapente na Lousã - Dupla sombra | julho 2006
Ascensão a dois ao Mauna Kea | março 2009

Sombra do farol da Barra | agosto 2008





Auto retrato
Hven, Suécia - Volta à ilha | setembro 2011
O Tiago, na véspera

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Aviões de papel

Gosto, gosto muito de aviões de papel. Uma simples folha dobrada e redobrada pela ordem estipulada, para se tornar magicamente num objeto voador. Não sei onde aprendi a fazer o primeiro avião de papel, mas a emoção é muita. Transformar essa inerte folha de papel, num ser vibrante, enérgico e com vida própria é algo que entusiasma logo quando se vê o efeito pela primeira vez. E um avião de papel é isso mesmo, o efeito. Terminar rapidamente para se lançar e ver como voa. A pressa de terminar é voraz, precisamente para se ver o resultado, a dinâmica do voo. Cada dobra pode estar muito bem vincada, as asas podem ter pinturas assustadoras, mas de nada serve se o avião não voar. O verdadeiro teste da mestria do autor está na destreza do voo. É preciso lançá-lo para o ar. Um jato, com força e convicção para ir longe. Um planador, com suavidade e no ângulo certo para pairar ali à nossa frente, o máximo de tempo possível. Lembro-me que comecei pelos jatos. Durante muitos anos só fiz jatos. Tentei aprimorar a técnica. Frustação tantas vezes quando após largada caíam redondos de bico no chão. Satisfação logo a seguir com a afinação do aparelho de vôo. Uns ailerons recortados em cada uma das asas, dobrados para cima, já permitiam compensar o "peso da cabine". Mas o prazer desse voo nunca durava mais que uns escassos segundos. Até que descubro os planadores. O único avião de papel que ainda hoje consigo fazer. Ontem fiz um, num guardanapo de papel, no Botirão, em Aveiro. Dá gosto ver como voam bem. Dançam como numa valsa, a rodopiar pelo atrito do ar contra a gravidade do seu mísero peso. Um dia destes tenho que ensinar o Tiago a fazer aviões de papel. Mas não é de estranhar que goste de aviões de papel, ainda hoje. Representam bem mais que o simples objeto em si. Mais até do que refrescar as memórias de infância, são mais até uma personificação da espontaneidade e da irreverência de quem os atira. No escritório, num anfiteatro, num espaço aberto, dobrar secretamente um avião de papel, lançá-lo no ar e esperar a reação. Espanto no primeiro segunto, logo seguido de descompressão e boa disposição. Ninguém fica indiferente. Ninguém é insensível ao voo frenético de um avião de papel. E não é que há um campeonato anual de aviões de papel? O Red Bull paper wingsFabuloso! Um gosto meu quase promovido a modalidade olímpica. Fazer um avião de papel, lançá-lo e provocar o sorriso na cara de alguém ainda por cima é grátis e está disponível a qualquer um. Não se sabe fazer um avião de papel? O youtube ensina. Centenas de vídeos disponíveis. Pela irreverência, pela energia, pela coreografia de vôo, pela sua simplicidade gosto, gosto muito de aviões de papel.




quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Pronúncias e Sotaques

Gosto, gosto muito de pronúncias e sotaques. Da capacidade que os povos têm de acrescentar algo seu a uma língua comum. O selo de autenticidade de uma região, tranportado na bagagem do seu falante, como seu embaixador, para qualquer lado que vá. Uma riqueza valiosíssima da nossa expressão, da nossa cultura, da nossa identidade. Uma paleta multisonora da gramática una e universal. A pronúncia do norte quase que é uma bandeira, a identidade suprema de uma região que orgulhosamente a assume. As vogais descaradamente abertas, os ditongos hipernasalados e até o abuso do calão identificam-se à distância. No Porto há muita pronúncia. No mercado do Bolhão, na Ribeira, mas também na Foz. Pronúncia e sotaque qb para delícia de qualquer registo sonoro mais atento. Mais para o interior, a pronúncia mantém-se carregada e rude. Com variantes deliciosas, de distrito para distrito. Em Celorico, os advérbios terminados em 'mente' ganham uma tónica exagerada. Em Trás-os-Montes canta-se mais, ainda assim com um sotaque serrano e muito castiço. Em Viseu, e em Oliveira de Azeméis descobri eu mais tarde, as vogais do início das palavras são adornadas com um expressivo 'j'. As (j)orelhas, os (j)ouvidos, os (j)olhos. Em Cascais, todos se tratam por você e o palato cola-se ao nariz. Lisboa, como mescla de origens que é, não terá necessariamente um sotaque típico, ainda assim, aqui e ali, em cada bairro, uma expressão oral caraterística, digna de atenção e nota, para um passatempo "descubra as diferenças". No algarve assiste-se à montongação dos ditongos, com um exagero na leitura da primeira vogal do ditongo. Peito fica 'pête', chapéu torna-se 'chapé' e João abreviadamente 'Joã'. As ilhas não são exceção. Detêm pronúncias e sotaques tão próprios que, às vezes, até nos soam a uma língua nova. Na Madeira palatiza-se o 'l'. Para Família ouve-se 'famílhia', aquilo será pronunciado 'aquilho'. E nos Açores, a pronúncia é ainda mais uma identidade própria. Em S. Miguel é quase impossível não identificar a pronúncia caraterística. Ouvir, conhecer e reconhecer as nossas várias pronúncias e sotaques é uma delícia. Por isso gosto, gosto muito de pronúncias e sotaques.


quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Locomoção humana

Gosto, gosto muito da nossa capacidade de locomoção. Essa proeza notável da evolução que nos torna uma das máquinas mais evoluídas à superfície da Terra. O movimento espacial do nosso corpo, pé ante pé, passo a passo, que lá nos impele para a frente e nos tira daqui para nos levar para acolá, para longe. Uma capacidade tão intrincada em nós adultos, que raramente questionamos a proeza de que somos capazes. Esta capacidade é mesmo notável. A troco do dispêndio de umas meras calorias, os músculos das nossas pernas sincronizam-se, articulam-se e miraculosamente lá conseguem mover a macro estrutura de que fazem parte para a frente, para os lados, para trás, para cima até, com um salto. Um impulso vigoroso já capaz de elevar o corpo para lá da fasquia dos dois metros de altura. Dois metros! O mesmo mecanismo que nos permite a locomoção é capaz de elevar o corpo até dois metros de altura. Assinalável. Mas o simples caminhar é um dos meus gostos mais genuínos. Ter por garantido o alcance do que me rodeia. Tornar a ambição duma distância, uma realidade. Sentir o prazer da conquista que esse feito nos dá, é um gosto. Quem já fez uma caminhada exigente sabe do que falo. É preciso sentir, é preciso viver essa emoção para venerar esta nossa capacidade de locomoção. Eu gosto, gosto muito, cada vez mais de me (lo)comover. Agora que vejo o Tiago a aproximar-se desse momento em que irá dar o primeiro passo, penso mais nisto. O quão difícil nos é coordenar a motricidade do movimento. O quanto difícil nos será equilibrar o corpo hirto na vertical. A locomoção, aparentemente simples, é afinal um processo deveras complexo. Tão complexo que não há robot algum que o consiga reproduzir fielmente . Algumas tentivas têm sido feitas, mas as limitações são sempre muitas. A locomoção humana é um feito da criação. E eu aprecio a forma como o podemos fazer, gratuita e saudavelmente todos os dias, sempre que nos apeteça. Assim digo, que gosto, gosto muito da locomoção humana.

Azul

Gosto, gosto da cor azul. Em qualquer nuance, em qualquer tonalidade, em qualquer uma das suas variantes. Desde o azul bebé até ao intenso azul das profundezas do oceano. Culturalmente por cá, qualquer rapaz deve gostar do azul, tal é a veemência da cor à sua volta e tal é a insistência daquilo que o rodeia. No Tiago, o azul predomina e fica-lhe bem. Mas o azul é ainda sinónimo de clube, clube de futebol, futebol clube do Porto. Sou simpatizante do Porto, é certo, mas apenas isso. Estou muito distante da realidade e dinâmicas do clube. Apesar destes dois reforços positivos, continuo a dizer que não é só por isso. Porque gosto, gosto genuinamente do azul. Os cones dos meus olhos rejubilam quando vêem no espelho essa predominância. O espírito acalma-se quando um aberto céu azul se espraia à minha frente. A boca abre-se quando as límpidas águas de uma lagoa se amontoam num azul intenso. As mãos querem tocar o azul glaciar do gelo compactado. Mas as cores, esse travo visual que conseguimos distinguir, não está acessível a todos. Os daltónicos sofrem com isso. Mas uma invenção portuguesa está a dar a volta e inventou um sistema de os capacitar também para distinguir este meu azul. O coloradd é uma daquelas invenções brilhantes, cada vez mais popular. Um sistema iconográfico para distinção das cores. Aqui o metro do porto já usa e foi aí que o conheci. Parabéns aos criadores. Oxalá se popularize. O Tiago, não sei ainda se gosta ou não de azul, mas que distingue as cores, isso sei. Adora cores fortes e vibra com tudo o que brilha de cor, tal é o entusiasmo com o mundo que o rodeia. O casaco azul que lhe vesti hoje, para ir à rua, fica-lhe muito bem, lá isso fica. Por tudo isto e por tudo o mais que vem de dentro e não vejo racional para tal, apenas consigo afirmar que gosto, gosto muito da cor azul.


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Mapas

Gosto, gosto de mapas. Essas representações abstratas do nosso contexto. Esses padrões que definem fronteiras. Essas alegorias da finitude do planeta. Dá-me um conforto enorme olhar para um mapa mundo e, ao ver tudo, de um só relance perceber que,  o meu mundo é isto aqui! Os geógrafos que conseguiram esta proeza no passado merecem toda a nossa veneração. Fantástica e universal representação da nossa realidade. E saber ainda que muitos deles foram sangue do nosso sangue. Esses quinhentistas portugueses que navegaram mapa abaixo, a recortar África. A decalcar cada cabo, cada enseada, cada vento, cada maré que define hoje com pormenor este nosso mapa mundo. Gosto de todos os mapas, os políticos os meus preferidos, a par com as cartas militares de escala mais pormenorizada. Mas gosto também dos mapas de relevo, esses que mostram onde está cada montanha, até onde cada vale se estende, ou quão fundo vai aquela fossa abissal do oceano. Mapas com tanta informação que às vezes sinto não processar tudo. Mapas climáticos, mapas rodoviários, mapas demográficos e tantos outros. E os mapas de cidades, com os pontos de interesse assinalados? Multi-coloridos de todas as formas e feitios, sempre disponíveis gratuitamente em qualquer cidade que recebe com carinho os seus visitantes. Mas mapas curiosos vi em 98 na EXPO. No pavilhão do território. Desconheceço a nomenclatura correta, mas eram uns mapas de portugal, contorcidos e retorcidos, conforme o tempo de viagem a um determinado local e não conforme a distância como habitualmente. Figuras fantásticas, que me fizeram pensar. Nuna mais os voltei a ver. Mas mapa original ainda, foi-me oferecido pela Joana e o Tiago, há uns tempos atrás. Um Scratch map mundo, a decalcar ao ritmo das nossas viagens, que está aqui afixado na parece. Quando o recebi, comecei entusiasmado a rasurar cada país já visitado, com cuidado para não passar inusitadamente a fronteira. Terminei estupefacto pela quantidade de países ainda ocultados. Tanto ainda para explorar! América, Ásia e África, quase tudo. Gostava de rasurar mais, bem mais. Mais recentemente descobri ainda outros mapas originalíssimos também. Os Crumpled city maps, ou mapas de amarrotar. Uma ideia genial para qualquer explorador de uma cidade. À prova de água e maus tratos, estes mapas ultra leves, super práticos e muito cómodos para andar todo o dia no tira-põe, que era afinal a principal ameaça à dignidade de um mapa normal. Este ano, aqui o Porto  recebeu a mais recente edição destes mapas. «Já podemos amarrotar o Porto sem perder o norte», como diz o Fugas. Mas as cartas militares, com todos aqueles detalhes são, sem dúvida, os meus mapas de eleição. Se atualizadas são uma radiografia fantástica para explorar qualquer ermo lugar, mesmo que nunca lá se tenha estado na vida. Por tudo isto gosto, gosto muito de mapas.

Mapa de rasurar/decalcar


Mapa de amarrotar


domingo, 28 de outubro de 2012

Acampar

Gosto, gosto muito de acampar. Regressar ao passado e sentir de perto, de muito perto, a natureza. Viver ao ar livre, ao sabor dos elementos, sentir o sol, o vento, por vezes até o barulho sonoro da chuva. Sentir os cheiros todos da terra. Ouvir o ruído das árvores, das aves e de todos os animais que pululam à nossa volta. Saborear uma refeição preparada ali mesmo, ao lado da tenda, rodeados de cenários arrebatadores. Sentir o calor e o aconchego de uma fogueira. Este meu gosto muito deve ter que ver com as minhas boas memórias passadas. Fui escuteiro. Entrei para o movimento com oito ou nove anos, já não me recordo bem. Cresci, acampei sempre todos os anos, várias vezes. Somei dezenas de "noites de campo". Ultrapassei mesmo a centena. E recordo-me de muitas. A primeira, sem dúvida. Uma bela noite de verão, em julho, com outros tantos meninos da mesma idade. Todos inquietantemente ansiosos por esse momento em que o sol se vai e a noite chega. Esse momento da primeira noite fora de casa. Um misto de emoção e de medo. Sim, que a noite, lá fora é escura, muito escura. A simples ida à latrina, oxalá não seja preciso, é uma aventura gigantesca. Valha-nos a defesa da lanterna, religiosamente guardada, dentro do saco cama, para acender ao mínimo barulho. Mas a emoção venceu esse medo inicial, e mais, muito mais noites se seguiram. O prazer de adormecer debaixo das estrelas e acordar com os primeiros raios de sol. Mesmo nas noites de chuva é um prazer. Mais tarde, já com a sabedoria e segurança do empenho na montagem da tenda, com a drenagem das águas devidamente acautelada. Estar dentro da tenda com essa certeza, dentro de um bom saco cama, quente, muito quente e ouvir o tic-tac da chuva na lona, como que um espetáculo de percursão ali tão perto, é no mínimo envolvente. Experimentei várias tendas. De início as tradicionais canadianas, triangulares como uma caixa de palitos, pequenas de dois lugares, ou maiores de seis ou oito. Mais recentemente os cómodos "iglôs" quadrangulares, leves e de fácil de montagem. Mas recordo-me mais de uma tenda muito especial. Uma tenda que os escuteiros  universitários finlandeses do meu ERASMUS  (SOOPA) usam e que levaram para o fim de semana onde acampei com eles. Uma tenda enorme onde coubemos todos, com um pormenor fabuloso. Uma salamandra no interior! Isso mesmo. Um ponto de queima de lenha, lá dentro, com chaminé até ao topo da tenda, para nos proteger e tornar possível o acampamento naquelas condições onde o termómetro roçava o zero. Um dispositivo que obrigava a uma vigia constante ao longo da noite, quer para alimentar o fogo, quer para zelar pela segurança dos que dormiam. com uma escala mitilarmente assegurada, para o bem de todos. Foi uma emoção e um conforto adicional sem precedentes. Por esta e por tantas outras aventuras ao ar livre, gosto, gosto muito de acampar.



Acampamento com os "SOOPA" | Finlândia, outubro 2001

sábado, 27 de outubro de 2012

Ponto final

Gosto, gosto de um ponto final. Esse sinal ortográfico que nos dá fôlego no final de uma frase. Que nos encerra um raciocínio. Que nos completa uma afirmação. Mas gosto mais e refiro-me sobretudo, ao ponto final, metáfora. A conclusão, o encerramento, a versão final, a última página, a última gota, um diploma, a volta depois da ida. Esses finais não disruptivos, antes pois construtivos, conclusivos, que realizam, que valorizam e preenchem. Essa sensação ótima de terminar algo. O ponto final da última página de um livro por exemplo, dá-me gosto. Tenho pena de não ser capaz de ler mais rápido. Falta de tempo, deficit de concentração ou excesso de sono atrapalham-me sempre as boas intenções. Por isso quando leio o último ponto final de um livro, sabe-me mesmo bem. Um curso, um trabalho, um projeto. Que bom é o ponto final derradeiro. Esse final saboroso da conclusão. Esse alívio de poder partir para outra. O ponto final de uma viagem. Gosto muito de viajar, mas o bilhete de regresso a casa, o ponto final do plano de viagem, dão-me segurança e conforto. Esse ponto final que nos transporta do "vejo como é", para o "conto como foi". É bom viajar, mas é tão melhor ainda o ponto final e o regresso à casa partida, para um balanço, para retemperar forças. Talvez por isto também goste dos pontos finais geográficos. Um cabo, uma península. Esses redutos últimos do nosso alcance terreste. Lembro-me agora do Cabo Finisterra, ali na Galiza, onde estivemos em junho de 2011, um lugar emblemático, religiosa e culturalmente, onde a península parece que se esgota. Mas os mapas atestam que o ponto final da ibéria, da europa ocidental continental não é Finisterra, é antes o Cabo da Roca. Esse outro ponto final, que de quando em vez se ouve na metereologia. Passamos por lá, já no ido ano de 2004. E mais recentemente tivemos que ver e sentir outro ponto final emblemático. Skagen, o norte mais norte da Dinamarca. Essa língua de areia que ondula ao sabor das marés. Esse  ponto final de um país plano, que com orgulho vende este ponto final como um orgulho seu. Um bom ponto final é um prazer sim. Por isso gosto, gosto muito de um  (bom) ponto final (.)


Cabo da Roca, Portugal | 2004
Cabo Finisterra, Galiza | 2011

Skagen, Dinamarca | 2011

"Pela China Dentro", António Caeiro | Dom Quixote
O meu mais recente ponto final



sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Queijos

Queijos. Gosto, gosto muito de queijos. De todos sem exceção. Brancos e macios,  frescos, aromatizados, azuis, duros, de pasta mole, nacionais ou exóticos. Os clássicos acompanham-me e tenho-os sempre por perto. O minhoto e tão típico queijo Limiano é ótimo. De textura uniforme e paladar macio, dá corpo a uma boa tosta mista ou cobre lindamente uma requintada francesinha. Às fatias fininhas, como agora se vende, ou então cortado em casa, com uma faca, em fatias generosas, a acompanhar um pedaço de marmelada. Que belo lanche. Na mesma categoria, o Terra Nostra dos Açores. Igualmente suave, mas mais macio ainda. De sabor agradável, é um queijo que gosto também. Agora que fui aos Açores recordar o pasto, o gado e a abundância do laticínio, parece que me sabe ainda melhor. Será possível? Das ilhas chegam-nos ainda dois outros queijos sublimes. O queijo S. Jorge DOP com intenso paladar picante, um bouquet claro e uma textura dura, mas quebradiça. Um orgulho das ilhas, um icone nacional. E o queijo S. Miguel, mais macio um pouco, mas ainda assim com um paladar generoso. Não resisti e na despedida de S. Miguel, passamos pelo "Rei dos Queijos" em Ponta Delgada, entramos na loja, já com água na boca tal era o cheiro no ar, provámos cada um dos que pedimos e lá trouxemos um naco de cada um dos dois, cortados no momento, de cada um dos enormes cilindros que fazem a unidade. Mas queijo, queijo, é o Queijo da Serra. Serra da Estrela leia-se. Feito com leite de ovelhas Bordaleira. Alimentando-se de ervas, flores e plantas selvagens, as ovelhas conferem ao leite e consequentemente ao queijo uma acidez suave com a doçura de caramelo, coagulhada numa maleável, cremosa e voluptosa pasta amarela. Uma delícia e um prazer. Acompanhado de um bom vinho então, aí está. Um dos prazeres desta vida. Mas e lá fora? Quanta variedade. França o eterno reino dos queijos. Afirma ter tantos quantos os dias do ano. Assim era há uns anos. Hoje certamente já serão mais. São muito gulosos estes fromages que nos chegam de França. Gosto particularmente de três. O Camembert de Normandie, produzido com leite cru, com um paladar frutado e um ligeiro aroma a cogumelos. Gosto do Camembert quando é cremososo a suculento, tal como os locais o apreciam. Depois o Roquefort, esse queijo bolorento, produto fruto do acaso, que ou se adora ou se detesta. Eu gosto, gosto muito. Em pouca quantidade, como sobremesa, por cima de um pão estaladiço, hummm, que delícia. E finalmente o Saint Nectaire, um dos grandes queijos franceses. Feito com leite de vaca oriundo dos ricos, luxuriantes e perfumados pastos vulcânicos das terras altas de Auvergne, apresenta um acentuado paladar a noz e leite. O pungente aroma a palha e cogumelos conferem-se o rótulo gourmet bem merecido. Pena é não lhe termos acesso cá. Apenas o provei oriundo da fonte, vindo diretamente de Clermont Ferrand. Cá não o encontrei ainda. Mas gostar, gosto muito é de uma boa tábua de queijos, para prova, à descrição. Um luxo. Um prazer. Por tudo isto gosto, gosto muito de queijos.


Camembert

Roquefort
Saint Nectaire

Queijo da Serra
Excelente livro que gosto.  Já faz parte da minha biblioteca.


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Feiras e Mercados

Gosto, gosto muito de feiras e mercados. Essas tradicionais manifestações do comércio e transação entre as partes. Essas reuniões periódicas que enchem de cor e energia os espaços. Aprecio a colorida e expressiva montra de gentes e produtos  locais.  Gosto de ver, ouvir e sentir um mercado local. Sempre que exploramos um sítio novo e, sempre que podemos, passamos pelo mercado local. É uma referência obrigatória para afirmar ainda com mais convicção, eu estive lá, eu conheço, eu fui ao mercado. Há mercados para todos os gostos, desde a vila mais pequena à mais urbana metrópole. Cá em Portugal, feiras e mercados não faltam. E é fácil recordar pelo menos um instantaneamente. A feira dos 28 em Aveiro, a Santa Catarina em Celorico, o Junho em Amarante, a feira do cavalo na Golegã, as feiras novas em Ponte de Lima, a feira da ladra em Lisboa, a vandoma aqui no Porto, mais recentemente ainda o PortoBelo ali na Praça Carlos Alberto também aqui no Porto. Tantas, tantas, impossíveis de inumerar aqui. Mas essa lista exaustiva é possível e existe mesmo. O Seringador, esse reportório crítico-jucoso anual, ferramenta de trabalho da agricultura, traz sempre uma lista das nossas feiras e mercados. Todas, em todo o país, durante todo o ano. Uma brilhante referência que nos diz, por exemplo, que hoje dia 25 de outubro foi dia de feira na Moita, em Anadia. Mas há um mercado que gosto particularmente e do qual sou cliente assíduo. O Mercado de Matosinhos. Um clássico, onde o peixe é rei e senhor. Fresco, variado e diretamente do mar. As peixeiras já me conhecem. Eu já lhes conheço (algumas) das manhas. Gosto duplo é, ao sábado, passar pelo mercado e logo a seguir saborear ao almoço um linguado fresquinho com um arroz de tomate. Que delícia! Por tudo isto e por todos os que já conheci, digo que gosto, gosto muito de feiras e mercados.


Helsínquia (Finlândia) | 2001
Jokkmokk (Suécia) | 2002
Budapeste (Hungria) | 2003
Frankfurt (Alemanha) | 2004
Marrakech (Marrocos) | 2004
Dublin (Irlanda) | 2005
Edimburgo (Escócia) | 2005
Barcelona (Espanha) | 2006
Santa Maria da Feira | 2007
Santa Maria da Feira | 2008
Kailua Kona (Hawai) | 2009
Funchal, Madeira | 2010
Roma (Itália) | 2010
Ribe (Dinamarca) | 2011