segunda-feira, 30 de julho de 2007

Pirinéus 2007

24 a 29 de Julho 2007


Porquê tanta montanha num ano só? A resposta aparece, clara como a água, apenas e só, depois de por lá se passar. Estes espaços, rodeados de uma imponência extrema, colocam-nos perante uma realidade perdida no dia-a-dia. Oferecem-nos uma beleza constante e variada em cada passo que se dá, além do desafio assumido e a final satisfação trazida a cada um dos destemidos participantes. Ora acompanhem-me por favor, em mais esta viagem:

As informações não eram muitas. Sei que vou para Torla, sei que regresso de Benasque. Estamos em plenos Pirinéus Aragoneses. Sei que haverá uma autonomia dura e sei que irei para paisagens desconhecidas minhas. Além disso, apenas conheço 4 das 18 pessoas do grupo. A expectativa é alta, pelos sucessivos testemunhos ouvidos ao longo destes anos. A organização, agora a cargo do GEMA, proporciona toda a logística necessária pelo 16º ano consecutivo, o que me deixa espaço/tempo para usufruir melhor da viagem. Saímos de Aveiro, no dia 24.07 às 6h30 da manhã, em 2 carrinhas Volkswagen, na capacidade máxima de passageiros e carga. Esta viagem de 11h é excelente para conhecer o resto do grupo. Chegamos a Torla, à hora prevista. Aldeia pituresca na base do Vale de Ordesa, que se apresenta logo acolhedora e agradável, de tão idílica e tranquila que é. Rodeada de altas montanhas, oferece-nos o porto de abrigo ideal pós-viagem de tanta estrada. No dia seguinte começa a etapa de autonomia. Mochilas e tendas às costas com tudo o necessário para só na noite do dia seguinte se ter o conforto da acessibilidade automóvel. Roupa, acessórios, comida e tenda tri-partida, pesam mais que 10 Kg. A minha mochila é das mais pesadas. A 1ª decisão está em poupar 2h de caminhada logo de início, com autocarro, ou partir desde ali do parque, em direcção a Ordesa a pé. Com um trilho à sombra de bosque e ainda com tanta frescura no corpo, a decisão é fácil. Pés no trilho, desde já, com saída cerca das 12h30. As vistas são pintadas de verde e pelo tons mais ásperos dos altos cumes que nos rodeiam. As águas cristalinas do rio Arazas impressionam e o som sempre presente das quedas de água é uma constante. Em Ordesa, encontramos a GR11, a grande rota de onde estraímos a etapa de hoje. Somos 2 sub-grupos, divididos entre os 2 guias. O dia está quente e o sol consome o protector solar com voracidade. Num vale magnífico, com umas vistas estonteantes, ainda é tempo de afinar ritmos de passada e é frequente a fuga de ovelhas tresmalhadas entre os 2 sub-grupos. Passados os "Grados de Soaso", entramos numa dimensão única. Um paraíso natural, emoldurado por escarpadas rochasas e revestido de uma garrida vegetação. O percurso desemboca na "Cola de cabalo", um dos ex-libris deste Vale de Ordesa. Reforço e descanso para a necessária conquista da encosta até ao refúgio dessa noite. Árdua subida, agravada pelo sufocante calor da tarde. Entre um sintoma de desmaio e cãimbras (não meus) e muita água sorvida, chegamos desfasadamente ao refúgio de Goriz. Com lotação esgotada nas 72 dormidas, pernoitamos em tenda, ali ao lado, como previsto. Contudo, o jantar, imaginado constantemente na subida, é negado a todos que chegam depois das 20h. Com uma frieza e arrogância inacreditáveis, valem-nos o excesso de comida e o mendigar da partilha dos restos da refeição servida pelos que vão chegando. Consigo eu ainda uma sopa knorr, uma salsicha, arroz e uma sobremesa, do que sobra. Reconponho-me da ansiedade de poder não jantar devidamente e juntamo-nos todos, providenciando comida a quem a perdeu no refúgio. Um dos velhos lobos da montanha, até vinho do porto levou e partilhou, ali ao luar daquele
luminoso quarto crescente da lua, e duma paisagem misteriosamente envolta por essa ténue luminosidade. As estrelas lá estão, magnifícias, como sempre. Quinta-Feira, viria a ser o dia, destes Pirinéus. Uma etapa duríssima, de 10h para mim e de 15h para quem por último chegou ao Refúgio de Pineta. Conseguimos vislumbrar 3 vales distintos num só dia: Ordesa, Añisclo e Pineta. Sem palavras para descrever tamanha variedade de cenários. Registo sem margem de dúvidas a dificuldade da descida do "Collado de Añisclo" até ao refúgio de Pineta. Sem ver ainda os números registados, foi uma descida acentuada, sem tréguas e com uma exigência extrema ao nível das articulações e a nível muscular. Guardo a lição de que, as descidas são sempre dolorosas e de pouca fruição, por isso, quanto mais rápido, menos sofrimento se tem. Com o travão da segurança e do bom-senso, faço questão de me colar ao grupo da frente. Na descida o meu pensamento está constantemente em quem, com 61 ou 51 anos de idade, tem, atrás de mim, que fazer o mesmo. Preocupa-me o quanto lhes deve custar, se a mim me está a custar o que custa. No final do dia, entre tanto desgaste acumulado, o grupo chega muito fraccionado a Pineta. A consciência obriga ainda a pousar a mochila e voltar para trás, em auxílio de quem precisa. Fico feliz e muito satisfeito por termos chegado todos em segurança. O cansaço apoderou-se de todos e a cama, desta feita no refúgio, cobriu-nos de uma agradável sensação de descanso. O dia a seguir impunha-se relaxante. Mesmo assim, ainda preenchido por uma breve mas bonita marcha de miradouros, com uma ermita, uma nascente cársica e a conversa com um simpático casal de Córdoba. Estamos psicologicamente recompostos do cansaço de ontem e a noite reserva-nos uma abundante feijoada comunitária, amavelmente cozinhada no acampamento em Viadós. A decisão difícil é a do próximo dia. Visita às Lagoas, com 3h de viagem automóvel, 2h de caminhada ou Travessia, 6h mínimas de caminhada, 700m de subida e 1300 de descida. Com a memória muscular da última descida ainda presente. Apenas 4 dos 18 alinhamos na Travessia, com início marcado para as 6h da manhã. A alvorada custa muito e a 1ª hora é meio sonâmbula para mim. O passo é ligeiro e constante. Por um vale, ainda à sombra, desenvolve-se nova paisagem deslumbrante. Avistado o "Collado de Estós", paragem e ganho de fôlego para a subida. Temos um ritmo muito bom. Chegamos ao Collado uma hora mais cedo, o que nos eferece um dos melhores momentos de toda a semana. Após novo reforço insólito, a estas 9h da manhã, com fejoada, ganhamos direito a adormecer, perante o cenário alucinante deste novo vale. A descida começa agressiva mais uma vez, mas rapidamente muda de humor e se transforma num trilho muito confortável para os membros inferiores. Chegados ao refúgio de Estós, temos ainda muito tempo e, por isso, o repouso, ao sol, ali rodeados de montanha por todo o lado, miúdas giras, presunto e coca-cola, sabe outra vez deliciosamente bem. Descemos mais e perto de Benasque, juntamo-nos ao restante grupo. Viagem até novo parque de campismo, propositadamente escolhido com piscina. O banho estival neste espaço sabe muito bem e depois disso... "El Humo del Muro". Um daqueles restaurantes que justifica uma viagem. Além das entradas habituais, uns caracóis deliciosos e uma 1/2 costoleta corpulenta, que dois dedos não medem altura, e "Orujo" para terminar, são a cereja em cima do bolo, deste programa. No regresso, um inesperado mágico momento nos espera. O som fantástico de ... dançados loucamente, ali no descampado plano daquele incógnito sítio ermo, no caminho da viagem de regresso ao acampamento, transportam-nos para uma dimensão que não a nossa!







segunda-feira, 23 de julho de 2007

Porto Bike Tour 2007


Com inscrições esgotadas há umas boas semanas, foi este o fim-de-semana da 1ª edição do "Porto Bike Tour". A ideia deve ter chocado os patrocinadores que pela primeira vez a ouviram. Parece impossível concretizar, antes de se meterem mãos à obra na organização. Mas a verdade é que aconteceu mesmo, eu estive lá. Por 50€, inscrevemo-nos como participantes, com direito a trazer para casa: uma T-Shirt, uma mochila (com depósito de água), um capacete, um cartão telemóvel com 2,5€ de chamadas, publicidade muita claro e... uma bicicleta! Sim a bicicleta está incluída no kit participante. A prova em si, não o é. É antes um passeio, um reunir de condições para ninguém ter uma única desculpa para ser sedentário. Mas o cenário de estar rodeado de 6000 particpantes mais toda a organização é único e inédito no espaço e no tempo e vale por si só. Esta travessia da ponte da Arrábida obrigou ao corte do trânsito desde a noite do dia anterior. A logística do evento estava excelente. Apesar dos descontraídos e vagarosos 11 Km, gostei da experiência e da boa disposição constante de toda a gente, partipantes e assistência.




segunda-feira, 16 de julho de 2007

Bobadela de Chaves


Este foi mais um daqueles fins-de-semana. Dos que estão planeados há muito. Fomos para Bobadela, a cerca de 15Km de Chaves ali em Trás-os-Montes já quase quase no Parque Natural de Montesinho. A aldeia terá cerca de 100 habitantes, a maior parte, muito envelhecidos, mas respira-se lá aquele ar! E o sítio é tão remoto que nem os telemóveis reconhecem o território como seu, quase não há rede, dificilmente se fala, há que procurar um canto cá fora, onde se consiga estabelecer o canal de comunicação. Conclusão, nem os toques polifónicos dos telemóveis se sobrepõe aos cantos dos pássaros nem aos zurros dos burros que por ali passam. O dia começa pelo mercado de Matosinhos. Umas frescas sardinhas, da lota para a grelha. A viagem pela nova auto-estrata para Chaves é hiper-panorâmica. Tão perto de casa e tão desconhecida. É muito cénica, a lembrar algumas das melhores paisagens da Europa. Já na Bobadela, as brasas estão prontas a receber o pescado. Grande almoço, farto, bem regado e muito animado por todo este grupo de 10 pessoas. Fantástico! São 16h e ainda estamos com os maxilares a trabalhar. A burra do Sr. Lindo, passa em frente a casa e torna-se rapidamente objecto de companhia em dezenas de fotogramas. Momento da voltinha do café, logo ali perto, no café do Sr. Nuno. As conversas soltas com as gentes da aldeia, tão genuínas, alegres e simpáticas fazem a tarde passar ao sabor das nuvens. Agora com a desculpa de banhos, viagem de carro até à longínqua praia fluvial. A viagem dura insistentemente. Chegamos já com poucos minutos de sol, antes da sombra daquele monte. Mas o tempo dá muito bem para um farto lanche. Regresso, com paragem e abanões na "pedra bolideira "(enorme penedo). Jantar bem regado e programa de noite, justificado pelas cartas do "Buraco". Antes disso, nova ida ao café da aldeia e um céu estrelado polvilhado de milhões de estrelas, da claríssima Via Láctea e claro estrelas cadentes. Imaginação à solta, tentando desenhar constelações na união dos pontos e o fascínio deste mundo mesmo ali por cima. Já tinha saudades destas estrelas! Domingo, manhã preguiçosa mas coordenada na alvorada. O homem do pão bate às portas dos quartos, a algazarra instala-se e os bocejos vão aparecendo no corredor. Parece que há quórum para a vontade de uma caminhada. A custo e na dúvida de chuva, saímos em direcção ao castelo de Monforte, a 4 Km dali, por volta das 11h. O percurso é? Fabuloso, claro. O céu tapado poupa-nos o escaldão e o suor. Contudo, a +/- 500m da chegada a chuva cai finalmente. Não molha, mas aborrece. E agora? Não vai parar. Meia-hora depois cai ainda com mais vontade. Bom... Plano B: boleia! Interrompido um churrasco de família que ali está também, conseguimos a boa-vontade do Sr. Eduardo, para nos levar, 2 condutores a casa. São 30 min ir e vir. Recompensamos o favor com duas de vinho verde, bem recebidas. Regresso de carro, sempre debaixo de chuva. Sem estar frio, as roupas semi-húmidas causam arrepios. Justifica-se a medida e em pleno Julho, acendemos a lareira da casa, para as fêvras claro, mas já agora aquece e não sabe mal. A comida é muita e o almoço arrasta-se. São novamente 4 da tarde e ainda estamos à mesa. Dinâmica de grupo a funcionar e deixamos Bobadela já perto das 19h, com direito a paragem ainda em Vidago para abastecimento de água lá para casa. Para além destas memórias fica a vontade de, em breve, repetir esta região!


segunda-feira, 9 de julho de 2007

As férias

"O direito a férias deve efectivar-se de modo a possibilitar a recuperação física e psíquica do trabalhador e assegurar-lhe condições mínimas de disponibilidade pessoal, de integração na vida familiar e de participação social e cultural." n.º 2 do art. 211º do Código do Trabalho (Lei 99/2003 de 27 Agosto).


Só de ouvir falar nelas já se fica bem disposto, principalmente agora que as de verão estão quase, quase aí. As hipóteses de programa são muitas e os destinos ainda mais. Sofá, festivais ou viagens? Praia, campo ou montanha? Ou ainda, Ibéria, Europa ou mais Lua? Imaginação não falte, para que os tão aguardados dias de férias deste verão sejam realmente aquilo que devem ser: relaxantes, alegres e revitalizantes. Sendo o ano civil, o meu quadro de referência para o planeamento destes dias, para este ano, confesso ter já as medidas cheias. O Kilimanjaro e toda a Africa de Fevereiro/Março últimos, ainda cá estão, no coração. Foi muito bom! Mas... não me conformo com a ideia do sofá. Ainda há espaço para mais. Tenho já aqui na manga: a expedição do GEMA deste ano aos Pirinéus (24 a 29 de Julho), o Intercéltico de Sendim (3, 4 ou 5 de Agosto), a festa d'aldeia em Dine (15 Agosto) e um programa surpresa (caseirinho) de 2 semanas de Agosto... todos a relatar aqui, dentro em breve. E as vossas férias? Para onde vão?

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Finalmente... Na Berlenga



Fim-de-semana dedicado à região centro. Estivemos outra vez, quase, quase para desistir, por razões meteorológicas, mas mais uma vez, aí está, valeu a pena ir. Começamos por Leiria, com os amigos e programa adequado à dinâmica de grupo. No Sábado a intenção estava direccionada para a ilha da Berlenga. Com a logística das deslocações e reservas de embarcação asseguradas, chegamos a Peniche com o céu cinzento, não muito animador, mas contudo, de esperança. Por cima do manto de nuvens imaginávamos já o sol radioso que nos ia chegar cá abaixo. No barco, os homens do mar garantem-nos que o dia vai ser de sol. Compramos na farmácia seguro anti-enjôo para a viajem, sob a forma de comprimido. Eu tomo-o, sem reserva meia-hora antes da dita, assim me diz a experiência e os relatos, de tanta gente onde o estômago aqui se revoltou, de conturbadas voltas que o mar lhes deu. Chegados ao cais, parece que sim, vamos agora à Berlenga (havia já uma outra vez tentado, sem sucesso). “O mar costuma estar sempre assim agitado?” – pergunto eu ao capitão do barco, como desbloqueador de conversa. “O quê? Agitado? Hoje? Isto hoje está é um mar de senhoras.” – Responde-me o homem, todo bem disposto. “Havia era de ter vindo na 2ª, onde as ondas até por cima do barco passavam!”. E assim a conversa se desenrola, com a ilha da Berlenga a aproximar-se lentamente de nós. "Então e o barco vai sozinho, não vai ninguém aí ao leme?" - provoco eu o homem; "Vai pois!" - O homem, à porta da cabine, virado cá para fora, mas com um braço esticado lá para dentro - "Eu aqui com um dedo controlo isto tudo!" - e para demonstrar vira o leme que nos desvia do prumo da Berlenga. (sim, sim, nem tudo foram ondas). A aproximação da muralha de terra da ilha acalma as águas e assim chegamos ao porto dos pescadores. As gaivotas são às centenas. O medo dos bombardeamentos é falado. Mas aqui não há estratégia possível, não há árvores, não há abrigos. Só a sorte nos livra dessa soberania aérea de quem defeca de cima para baixo. O sol aí está. O calor também. Caminhamos calmamemente em direcção ao Forte de S. João Baptista, onde almoçamos sobre um sol abrasador. A volta pelo escadario íngreme não apetece a ninguém. Numa tentativa frustada de negociação de preço, regressamos ao porto inicial, onde também está a única praia de areia que vimos, por 3€ cada um, com direito a visita pelas grutas ali ao lado. Da gruta do sono à greta da Inês, terminamos na praia tórrida com água gélida. Tarde preguiçosa, terminada no único bar local, em grande. Regresso já com novo manto de nuvens a Peniche e Leiria. A noite de Leiria é vívida e o Grémio Literário, já nosso conhecido, dá-nos o nosso espaço. Domingo era caminhada. A dureza do dia anterior (afinal viemos para relaxar), transformam o propósito da saída matinal, numa visita ao Mosteiro da Batalha e... uns 20 min de treinos de karting. Só 2 de nós, os homens, a experimentar aquela pista, com todas as voltas cronometradas e com total controlo das máquinas. O resto do programa esteve em Ourém. Um rodízio de pizzas delicioso, uma verdadeira e agradável surpresa, após aqueles tantos Kms de estrada nacional, na pizzaria "Va Benne". Merecedor da deslocação, já que pelo que dizem, estiveram 1 ano e meio à espera do cozinheiro. A Napolitana, a 3 queijos, a de bacalhau, a... eram óptimas. Para terminar com a cereja em cima do bolo, sob a forma do seu néctar, brinde com uma (duas) Ginjinha no Castelo de Ourém, que assim deu por terminada a pintura de mais um
quadro de fim-de-semana.